Diferente das demais reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) que aconteceram durante o ano em que as elevações na taxa básica de juros, a Selic, eram amplamente aguardadas, a expectativa para esta quarta-feira, 21, é bastante imprevisível. Parte do mercado espera que o Banco Central mantenha a taxa em 13,75%, enquanto outra parte acredita em uma elevação residual de 0,25 ponto percentual.
A melhora dos indicadores econômicos, com projeções de queda da inflação e alta no PIB, pode sustentar a decisão do BC na manutenção da taxa atual. “Embora o Banco Central tenha deixado em aberto um possível ajuste final de menor magnitude em setembro, os dados recentes de inflação indicam que esta última alta não será necessária. Agora, a grande questão passa a ser a velocidade de redução dos juros em 2023”, diz Gustavo Batista Wanderley, gerente de investimentos do Paraná Banco, que espera pela manutenção da Selic em 13,75%. A antecipação da alta de juros no Brasil antes mesmo de países como os EUA, que começou a subir juros há pouco tempo, também é um dos motivos para Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital, acreditar na manutenção da taxa. “Estamos confortáveis com o patamar atual”, diz.
A expectativa, no entanto, não é unânime. Para outra parte do mercado, o BC deve manter uma postura mais cautelosa, especialmente devido às sinalizações de que o banco central norte-americano, o Federal Reserve (Fed), deve continuar com elevações mais agressivas nos juros americanos, medida que tem potencial de gerar fuga de investidores e adicionar mais pressão inflacionária com a valorização do dólar. “Caso o Fed venha com o improvável aumento de 1 ponto percentual ao invés de 0,75 ponto percentual, vai surpreender o mercado e pode puxar o dólar para cima. Além disso, temos que ficar atentos à postura do Fed em seu comunicado”, avalia Felipe Steiman, gerente comercial da B&T Câmbio.
A Suno Research espera uma alta de 0,25 ponto percentual na reunião, levando a Selic para 14%, devido à inflação ainda bastante dissipada nos setores medidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). “Apesar da deflação do IPCA nos últimos meses, muito por conta das medidas tributárias e reajustes da Petrobras, sete dos nove grupos pesquisados registraram alta no mês de agosto. Se retirarmos do IPCA os combustíveis e energia, o índice apresentaria uma variação positiva. Tanto a média de núcleos de inflação quanto o índice de difusão voltaram a crescer. A inflação segue disseminada em toda economia”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. Além disso, o economista da casa destaca que as expectativas do Boletim Focus para inflação de 2024 estão subindo, o que reforça a visão de que o BC deve se manter cauteloso. “Se a autoridade monetária não quiser perder de vista a convergência da inflação de médio prazo, dar um ajuste residual agora pode ancorar melhorar as expectativas”, diz.
Poucos dias atrás, o mercado vinha trabalhando amplamente com a possibilidade de manutenção na taxa, mas eventos recentes bagunçaram esse cenário de expectativas. A surpresa dos dados inflacionários nos Estados Unidos, que continua em trajetória ascendente, e as falas do presidente o Banco Central, Roberto Campos Neto, demonstrando preocupação com a inflação no Brasil, sinalizaram para o mercado a possibilidade de uma nova alta. Embora estejamos em um cenário de queda nos últimos dois meses no país, a inflação historicamente se retroalimenta e gera novas pressões, e essa realidade pode mostrar um Banco Central mais cauteloso”, avalia Leandro Vasconcellos, especialista da BRA. Mesmo que os cálculos apontem que o IPCA pode encerrar o ano abaixo dos 6%, para alguns especialistas ainda é cedo para dizer que o ciclo de altas esteja realmente no fim.