Carlos Murillo, gerente-geral da Pfizer na América Latina, afirmou que passou a conversar com o então secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, após ser notificado pela matriz da empresa que o membro do governo havia procurado a sede da farmacêutica para conversar sobre a vacina. Murillo, então presidente da empresa no Brasil, era o responsável pelas negociações e disse aos membros da CPI que passou a tratar do imunizante da companhia em maio com o Ministério da Saúde, sendo a primeira oferta feita em agosto.
“Recebi um alerta da nossa casa matriz sobre o contato que o senhor Wajngarten procurou o CEO global da empresa, então, telefonei a ele.” Na conversa, em novembro do ano ano passado, Murillo foi questionado por Wajngarten sobre o andamento das negociações e contou sobre as ofertas até então feitas pela empresa, que ofereciam até 70 milhões de doses ao país pelo valor de 10 dólares a dose – e que ficaram sem resposta por parte do Ministério da Saúde.
Durante o telefonema, Murillo afirmou que Wajngarten pediu que ele esperasse na linha e o colocou em contato com o ministro da Economia, Paulo Guedes, que estava junto ao presidente Jair Bolsonaro, e repetiu as informações. “O ministro me disse que o país precisava de mais doses. Disse que estávamos trabalhando para conseguir uma oferta melhor.” De acordo com Murillo, o contato com Wajngarten e as tratativas com o então secretário ocorreram como forma de tentar coordenar a negociação. Porém, as ofertas e detalhes continuaram a ser tratados com o Ministério da Saúde, que tinha Eduardo Pazuello como titular da pasta.
Durante o depoimento, Murillo enfatizou que teve contato com Pazuello em apenas duas ocasiões. Uma em novembro, quando recebeu contato telefônico após uma nova proposta enviada ao Ministério, por 70 milhões de doses e ajustes no cronograma, e outra pessoalmente, em dezembro, no Ministério da Saúde, onde foi apresentado ao ministro por Elcio Franco, então secretário-executivo da pasta.
Reuniões
No depoimento, Murillo também confirmou que a diretora jurídica da companhia participou de reunião em dezembro com Wajngarten e outros dois representantes da Secretaria de Comunicação. O gerente-geral não soube informar o nome de outras pessoas que estariam presentes nesse dia. Senadores da comissão perguntaram sobre a presença do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, e de Filipe G. Martins, assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República.
Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, cogita chamar as diretoras da Pfizer para esclarecer se membros não ligados ao governo federal estiveram presentes na reunião.