Três dos homens mais ricos do Brasil têm empresas em paraísos fiscais, segundo documentos do Paradise Papers. A investigação sobre documentos vazados da consultoria Appleby indica que os empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira são proprietários de offshores nesses países.
Os sócios do fundo de investimento 3G Capital ocupam atualmente o 1º, 3º e 4º lugares em fortuna no país, com patrimônio de 95,4 bilhões de reais, 47,8 bilhões de reais e 40,7 bilhões de reais, respectivamente, segundo o ranking da Forbes.
A análise dos documentos da Appleby, especializada em administrar empresas offshore, foi feita por um consórcio de jornalistas investigativos de vários países. No Brasil, as investigações foram conduzidas pelo site Poder360. Os cruzamentos de dados indicam que os três sócios da 3G Capital têm participação em pelo menos vinte empresas de locais como Bermudas, Ilhas Cayman e Bahamas.
Em uma delas, a S-BR Global Investments Ltd., o atual presidente da Petrobras, Pedro Parente, atuou como conselheiro entre 29 de agosto de 2012 e 5 de junho de 2016, segundo o Poder360.
Possuir empresa offshore não é ilegal segundo as regras brasileiras, desde que seja declarada à Receita Federal. No entanto, esse tipo de empresa é muitas vezes ligada a crimes, como evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Isso porque a legislação dos chamados paraísos fiscais permite que essas empresas sejam abertas e realizem transações, de modo a ocultar a identidade dos verdadeiros donos. Assim, criminosos conseguem estruturar operações para ocultar a real origem do dinheiro movimentado.
Além dos sócios da 3G Capital, os Paradise Papers indicaram que vários empresários, políticos e personalidades – até mesmo a rainha da Inglaterra, Elizabeth II – têm esse tipo de empresa. No Brasil, além dos sócios da 3G Capital e de Parente, aparece o nome dos ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que nega irregularidades.
Outro lado
Procurados por VEJA, os sócios da 3G Capital emitiram nota afirmando que realizaram a mudança de seus endereços fiscais para o exterior há vários anos em virtude da expansão do negócio para outros países, e que esse processo envolveu a “constituição de veículos para fins de gestão e planejamento estratégico” de investimentos.
Os empresários dizem que todos esses veículos são legais, cumprem as normas e são relacionados à gestão de investimentos e ativos. “Cumprimos todas as regras aplicáveis em relação à divulgação de informações nos países que estamos presentes ou investimos. Tudo perfeitamente normal e dentro das leis aplicáveis”, diz trecho da nota.
A Petrobras emitiu, no último domingo, comunicado ao mercado de seu presidente, em que ele diz que participou da offshore, mas renunciou antes de assumir a estatal. Parente diz que recebeu pagamentos pelo seu trabalho, que foram devidamente declarados. “No entanto, nunca fui e não sou acionista, direto ou indireto, da S-BR Global Investments Limited, não havendo, portanto, o que constar na declaração de bens do Imposto de Renda”, diz o comunicado.