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‘O maior erro é voltar a usar a Petrobras’, diz Zylbersztajn

Para ex-presidente da ANP, resposta do governo à greve dos caminhoneiros recria a conta petróleo, 'uma das piores experiências que o Brasil já teve'

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 2 jun 2018, 08h39 - Publicado em 2 jun 2018, 08h38
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  • O ex-diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e professor da PUC-Rio, David Zylbersztajn diz que “o Brasil não aprende” com os erros do passado e voltou a interferir politicamente na Petrobras, para controlar preços da economia. O presidente da Petrobras, Pedro Parente, pediu demissão do cargo ontem após o governo reduzir o preço do diesel e congelar o preço em um acordo para encerrar a greve dos caminhoneiros. Sob a gestão de Parente, a Petrobras voltou a dar lucro pela primeira vez desde a Lava Jato.

    Segundo Zylbersztajn, reconstruir a credibilidade da empresa levou tempo, mas destruí-la pode ser rápido. A seguir, os principais trechos da entrevista:

    Como o sr. avalia a saída de Pedro Parente da Petrobras?

    O Brasil não aprende. A gente acabou de ver qual o resultado de uma empresa com interferência política, com controle de preços, com subsídios. Pode-se mexer, eventualmente, na questão de periodicidade (dos reajustes de preço nos combustíveis), mas a lógica é a que qualquer empresa do mundo usa, de alinhar os preços aos preços internacionais. Era isso o que o Pedro estava fazendo. Foi isso que fez com que a Petrobras reduzisse sua dívida, se transformasse em uma empresa viável. Empresa viável não é só para o acionista, mas também para fazer parcerias, investimentos, ter custo de capital menor. Estava em uma trajetória impecável de recuperação.

    O que achou das repostas do governo à crise com os caminhoneiros?

    Estão recriando a conta petróleo, que foi uma das piores experiências que o Brasil já teve. Isso acaba sobrando para a Petrobras. Ter o governo como devedor não é uma das melhores coisas, ainda mais uma empresa controlada pelo próprio governo. É como se o governo pegasse dinheiro de uma empresa da qual é o principal acionista. Isso não é aceitável. Me espantam as propostas do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) que, em nenhum momento, falam em abrir o setor de refino, obrigar (a Petrobras) a vender (refinarias). Foi o único monopólio mantido. Ela perdeu o monopólio na exploração e produção e vai muito bem. Perdeu o monopólio na distribuição, nos transportes, mas continuou 100% monopolista no refino. É um bom momento para o Cade dizer: “olha, você tem um prazo para vender 30% ou 40% do seu parque de refino”.

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    Qual foi o principal erro do governo?

    O mais errado é voltar a usar a Petrobras. Para reconstruir a credibilidade, você precisa às vezes até de uma geração.

    Ainda é reversível?

    Se o governo estava interferindo na gestão do Pedro Parente, vai intervir na gestão de quem vier. Começar tudo de novo, com uma política correta, vai demorar muito mais do que demorou até agora. O custo de empréstimos vai ser mais alto, o alongamento (do prazo da dívida) vai ser mais difícil, vai haver menos investidores, a empresa vai fazer menos parcerias. Com isso, o valor da empresa cai. A Petrobras é uma empresa nacional, uma das melhores do país em termos de qualificação humana e tecnologia. É uma coisa que dá orgulho ao país. Ao mesmo tempo em que é nossa, nós vamos destruir? É uma coisa maluca.

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