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O custo altíssimo da viagem de Bolsonaro à Rússia

Bolsonaro prefere irritar os EUA, maior economia do mundo, ao visitar parceiro comercial pouco relevante; Rússia é 36ª no ranking de exportações brasileiras

Por Victor Irajá Atualizado em 12 fev 2022, 00h17 - Publicado em 11 fev 2022, 11h38
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  • Em meio à autoafirmação de macheza do presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao ameaçar diuturnamente a Ucrânia de invasão, o presidente Jair Bolsonaro deve enfiar o Brasil em um conflito diplomático muito maior do que o país merece. Historicamente admirado por sua diplomacia e pelas boas relações comerciais mantidas com todo o mundo, o Itamaraty está agora, sob o governo de Jair Bolsonaro, à beira de se engendrar em um jogo de xadrez que não lhe diz respeito, e com muito a perder.

    Para além da saia justa diplomática, com a inoportuna viagem de Bolsonaro à Rússia de Putin, o presidente dá o primeiro tiro. No próprio pé. No ano passado, o Brasil consolidou uma relação comercial com os Estados Unidos de 49,6 bilhões de dólares até setembro de 2021 — recorde desde o início da balança comercial brasileira, em 1997. O país é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China e da Argentina. Se, por torcer o nariz para o democrata Joe Biden, o governo brasileiro se alinha a Putin, não é por razões comerciais. A Rússia ocupa o 36º lugar nas exportações para países com relações comerciais com o Brasil — com uma balança, vale dizer, deficitária em mais de 4 bilhões de dólares para o lado de cá.

    Segundo o Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex),  entre 2017 e 2021, o volume de exportações do Brasil para os russos recuou 44%. No mesmo período, as importações de produtos russos aumentaram 119%. Enquanto o Brasil vende commodities agrícolas para os russos, eles são um dos principais exportadores de fertilizantes para o Brasil.

    Relações internacionais

    Desde que Donald Trump deixou a presidência dos Estados Unidos, Bolsonaro ficou mais sozinho na posição de polêmico internacional. Bolsonaro ocupa, quase exclusivamente, a triste posição de chefe de Estado não vacinado durante a pandemia — e flerta com lideranças antidemocráticas. Na viagem para a Rússia, o presidente deve dar um pulo na Hungria, de Viktor Orban — colocado na lista de déspotas autoritários pelos Estados Unidos. Símbolo da diplomacia brasileira, Oswaldo Aranha (1894-1960) errou por pouco o retrato das relações internacionais do país em 2022. “O Brasil é um deserto de homens e ideias”. Está quase certo. O país é um deserto de boas lideranças, mas um oásis de ideias ruins.

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