O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira, 3, que irá conduzir o processo de sucessão no Banco Central da forma “mais suave possível”. O mandato de Campos Neto acaba em 31 de dezembro deste ano, e o governo federal, que indica o presidente do BC, já iniciou as discussões sobre a cadeira. O atual presidente da entidade disse que não tem como opinar sobre o processo, mas aproveitou para deixar um conselho a seu sucessor: é importante saber dizer “não”.
“A coisa mais importante é ter a firmeza de dizer não quando for necessário. Vai ser necessário, sempre é, dizer. Os ciclos são diferentes, os desejos são diferentes, o entendimento do que é bom é diferente. Então, é importante ter firmeza e explicar isso. O clico de política monetária tem um timing diferente”, afirmou durante evento do Bradesco BBI. Segundo ele, o pior cenário para o país é uma inflação fora do controle, que corrói o poder de compra, em especial o das classes mais baixas, e citou como exemplo as situações de Argentina e Turquia.
Campos Neto é o primeiro presidente do Banco Central desde a autonomia da autarquia. Ele foi conduzido ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e, após a aprovação da autonomia do BC, reconduzido ao cargo até 2024. Com a mudança de governo, Campos Neto foi um dos alvos preferidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pressionava por uma queda mais rápida nas taxas de juros e atacava Campos Neto pela demora. No entanto, a decisão da autoridade monetária se mostrou acertada, e o processo de redução de juros — iniciado em agosto do ano passado — ocorreu a partir de um cenário sólido de desinflação.
Campos Neto disse ainda que espera que a sabatina para o indicado à presidência, obrigatoriedade para a condução do cargo, aconteça ainda este ano, mesmo que seu mandato não tenha acabado. Segundo ele, é uma questão prática para já conduzir o novo presidente assim que seu mandato se encerrar.
Nome forte
O principal cotado para a vaga de Campos Neto é Gabriel Galípolo, ex-secretário do Ministério da Fazenda e diretor do BC desde meados do ano passado. Nome de confiança do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Galípolo foi a primeira indicação de Lula para a autarquia independente.
O ministro da Casa Civil do Brasil, Rui Costa, sinalizou nesta quarta-feira a força de Galípolo para ocupar a vaga. Em entrevista à Globonews, ele concordou com os entrevistadores que Galípolo é o nome mais forte para a vaga, mas não o citou. “Sobre o BC, a escolha é do presidente Lula. É uma boa teoria de que o primeiro nome é sempre o nome mais forte”, disse. “É um quadro técnico extraordinário, competente. Mas a decisão ficará para o momento adequado, ao presidente Lula, que ao final do ano, momento em que ele deve indicar, ele fará a indicação.”
Na terça-feira, no evento do Bradesco BBI, Haddad afirmou que a decisão fica a cargo de Lula, mas que a condução deve ser tranquila. “O presidente tem três nomes para escolher agora: dois diretores e o presidente. Penso que vai ser um processo muito natural. Ele vai ouvir as pessoas, vai ouvir a Fazenda, nós vamos ouvir o Banco Central sobre como fazer essa transição, e quero crer que essa transição vai ser muito mais tranquila.”