Empreendedora, escritora e youtuber, Nathalia Arcuri, 36 anos, deu início, nos últimos dias, à exibição da terceira edição do seu reality show de finanças, o Me Poupe!, hospedado em canal homônimo no YouTube. Exibido às segundas e dividido em 12 episódios, o programa apresenta as histórias de três personagens endividados. Dentre mais de 900 inscrições, foram selecionadas a gerente de call center Thainá, que chegou a ter nove cartões de crédito; a Raquel, que resolveu empreender em uma cafeteria em meio à pandemia; e o Lucas, um motorista que gasta mais que ganha e recebe mesada do pai aos 28 anos. Para a produção do programa, Arcuri revela ter investido cerca de 2 milhões de reais. Sua tarefa como consultora é salvar as finanças dos endividados, mas ela garante que poderia fazer mais pelo Brasil e oferece uma “mão” ao ministro da Economia, Paulo Guedes. “A situação dessas pessoas é como a do Paulo Guedes, que está sempre tentando cortar de algum lugar para ganhar não sabe de onde”, diz ela em entrevista a VEJA. “Posso ajudar a resolver o problema das pessoas. Estou começando por elas. Mas, se o Paulo Guedes quiser uma ajuda, posso fazer um reality com ele também.”
O que esperar desta temporada do reality show? Neste ano, a gente vai olhar muito para o que está acontecendo no Brasil. O cenário de inadimplência, endividamento, pessoas caindo para a faixa da extrema pobreza… Estamos com alguns dos piores indicadores do planeta. O câmbio e a taxa de juros nem se comentam. Enquanto isso, o spread bancário só aumenta. A missão principal da Me Poupe! é tentar tornar o país um pouco mais sustentável, melhorando a vida financeira da população brasileira como um todo. Tem muita gente que assiste o programa e se identifica não só com a situação financeira dos personagens, mas, principalmente, com a situação emocional deles.
Uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Turismo e Serviço, a CNC, mostrou que o endividamento das famílias bateu recorde em 2021. E mais de 80% dessas dívidas são por conta do uso do cartão de crédito. Isso acontece porque nós tivemos um boom de financeiras, fintechs e tudo mais, que, para capturar clientes, oferecem crédito a torto e a direito. Tudo isso está conectado com o reality, tanto que a Thainá, nossa primeira endividada, tinha nove cartões de crédito. E não contente com isso, ela ainda tinha uma maquininha, que usava para se dar crédito.
Por que as pessoas chegam nesse estágio? É falta de controle financeiro. Muita gente ainda compra roupa e eletroeletrônicos no carnê. É um consumo que gera mais benefícios para quem vende do que para quem está comprando. Há uma instabilidade crônica no Brasil, que se reflete no mercado financeiro, nas instituições governamentais e na vida das pessoas. O que acontece no micro reflete o que está acontecendo na macroeconomia. Assim como o Paulo Guedes está tentando cortar de algum lugar para ganhar não sabe de onde, o que podemos chamar de “cobertor curto” ou falta de planejamento, a população vive da mesma forma. Posso ajudar a resolver o problema das pessoas. Estou começando por elas. Mas, se o Paulo Guedes quiser uma ajuda, podemos fazer um reality com ele também.
Como funciona o processo de produção do programa? A gente abre um processo de chamada para pessoas que estão com uma situação financeira crítica. Para esta temporada, quase 1.000 pessoas, só em São Paulo, inscreveram-se. Depois a gente faz um processo seletivo levando em conta os dados financeiros e as questões comportamentais. Desses mil, afunilamos para 24. E fazemos mais entrevistas para entender quem são, de onde essas pessoas vêm, e o quão difícil seria resolver esses problemas. Nesta temporada, estamos com 80 pessoas atuando nos bastidores do reality, entre casting, produção, análise financeira e psicológica. Esta temporada custou aproximadamente 2 milhões de reais.
E qual é o seu maior desafio no programa? Fazer os convidados reaprenderem a viver com o que ganham, esquecendo o cartão de crédito. Em quatro semanas, a pessoa tem de estar com a vida nos eixos. Ela precisa entrar endividada e sair investidora. Não existe a opção de não dar certo.
Além deste projeto, quais são as principais apostas da Me Poupe para o ano? O reality é um projeto de entretenimento dentro do ecossistema da Me Poupe. Além dele, há uma série de cursos e meu trabalho com consultoria para pequenos e médios empreendedores. Também estamos crescendo o nosso site e vamos, em breve, lançar o nosso aplicativo.
Pode-se dizer que, por meio desse aplicativo, a Me Poupe vai se tornar uma fintech? A única coisa que eu posso dizer, neste momento, é que faremos uma revolução no mercado financeiro. O lançamento do app será no primeiro semestre.
Com a atual conjuntura da taxa Selic, a bolsa de valores deixou de ser atrativa? Houve uma euforia com a bolsa batendo recordes atrás de recordes depois daquele vale profundo do início de 2020. Foi um período de oportunidade para quem estava fora da bolsa. Agora, no entanto, para quem quiser investir, com planos de médio e de longo prazo, o Brasil voltou a ser um lugar muito interessante, com baixo risco e alto retorno na renda fixa. Hoje, há pré-fixados pagando 13,5% ao ano. Eu acho que não faz sentido manter uma posição forte em bolsa de valores em um ano de eleição, que é cercado de incertezas. Se você não trabalha com day trade, que é especialista em variações diárias, e está olhando para o longo prazo, não faz muito sentido estar com grana dentro da renda variável.
O caminho é voltar a investir na renda fixa? Acredito que sim, principalmente para quem tem boa liquidez. Hoje, há CDB que paga 300% do CDI, o que é ótimo para fazer uma reserva de emergência. É o momento ideal para começar a investir. Isso também aconteceu em 2015 e 2016, no auge da crise da Dilma, quando a taxa de juros estava acima dos 10%. Quem pegou bons pré-fixados lá atrás se deu bem.
Foi o seu caso? Sim. Eu estava juntando patrimônio naquela época. Peguei um CDB pagando 19% ao ano. Carreguei esse título por cinco anos e ele dobrou o dinheiro que eu investi. Este ano, a gente vai voltar a ter rentabilidade positiva para quem estiver com uma boa reserva de emergência. Até o Tesouro Selic passou a ser uma aplicação mais interessante neste momento. Só tem que tomar muito cuidado onde alocar esse dinheiro na renda fixa. Quando a gente fala em renda fixa, parece que é tudo uma coisa só, mas não: é preciso fugir de CDB de bancos grandes e abrir uma conta em uma corretora de valores. Para quem tem dinheiro na poupança, que vai além da reserva de emergência, que é o equivalente a seis meses do custo de vida, vale a pena aproveitar esse momento para ganhar quatro vezes o que a poupança vai pagar nos próximos anos. A crise gera oportunidades para quem estiver preparado para ela.