Morador de São Paulo, um gerente de tecnologia da informação ficou conhecido nos últimos dias mesmo sem ter mostrado seu nome. Ele foi vítima de racismo durante uma entrevista de emprego.
O caso só veio à tona porque o presidente da Bayer do Brasil, Theo van der Loo, ficou indignado e contou o que aconteceu com o amigo em uma postagem no LinkedIn.
“Um conhecido meu, afrodescendente, com uma excelente formação e currículo, foi fazer uma entrevista. Quando o entrevistador viu sua origem étnica disse à pessoa de RH que ele não sabia deste detalhe e que não entrevistava negros!”, escreveu Van der Loo em postagem com mais de 300 mil visualizações.
O gerente, que pediu para não revelar o nome, diz que ainda prefere pessoas como essa do que outras que fingem não ser racistas. “Essa pessoa, ao menos, foi honesta e teve coragem de dizer o que pensava. Prefiro essas do que aquelas que te chamam para a entrevista, mas nem te olham quando você chega. Pergunta seu nome, algo mais, e a entrevista não dura nem cinco minutos. Dá para perceber que a pessoa tem problemas com étnicos”, disse ele a VEJA.
Com mais de 20 anos de experiência na área de TI, o gerente diz que não quer mostrar seu nome para não prejudicar a carreira. “Isso me deixaria marcado. As pessoas não querem contratar funcionário-problema. O gestor pode até ser solidário com a circunstância, mas você começa a trabalhar e algum colega pode não gostar.”
Mesmo tendo exercido cargo de gerência em grandes organizações, ele disse que foi vítima de racismo em várias ocasiões de sua carreira. “Já fui chamado de macaco e de negrinho de pastoreio. Muitas vezes a pessoa que ofende tem mais problemas que a gente. Essa questão dela com étnicos pressupõe problemas de relacionamento, emocionais.”
O gerente conta que seu primo denunciou um caso de racismo. “A testemunha que iria depor em nome do meu primo foi pressionada pela empresa e acabou testemunhando contra ele. No final, ele perdeu o processo e ainda foi condenado a pagar uma multa para a empresa por injúria e difamação.”
Graduado na UFRJ, ele fez MBA e vários cursos de especialização, inclusive nos Estados Unidos. “O negro tem que saber o dobro se quiser a mesma posição que a pessoa de outra etnia. Já ganhei menos que pessoas de outra etnia ocupando a mesma função. Com a mulher negra, o preconceito é ainda maior.”
Arrimo de família, o gerente e seus três irmãos estão desempregados no momento. “Imagina como não está minha mãe.”
Ele diz que vai sobrevivendo porque tinha umas reservas guardadas. “Mas elas estão acabando.”
Mesmo sem ganhar nada com a exposição do caso, ele diz que a discussão é boa. “Mostra como o racismo ainda está presente na sociedade.”