A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em segunda instância animou investidores nesta quarta-feira. Mas apesar de o resultado por 3 a 0 dificultar a candidatura do petista à Presidência em 2018, as eleições ainda são o principal foco de dúvidas para o mercado financeiro sobre a continuidade das reformas econômicas, segundo analistas ouvidos por VEJA.
Os três desembargadores do Tribunal Regional da 4ª Região (TRF4) mantiveram, por unanimidade, a condenação do petista por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá. A bolsa de valores, que já operava em alta, subiu ainda mais após o segundo voto, que definiu a maioria contra Lula. O Ibovespa encerrou o dia com recorde histórico de 83.680 pontos. O dólar, em queda, também recuou mais no horário, fechando em 3,159 reais.
Com o placar de 3 a 0, não há possibilidade de usar um tipo de recurso aplicável quando há divergência – os chamados embargos infringentes. Dessa forma, não haveria como reverter a decisão, e Lula seria barrado do pleito pela lei da Ficha Limpa.
Para Silvio Neto, economista sênior da consultoria Tendências, o otimismo do mercado pode ser explicado pelo temor de que a eventual vitória do petista implique em grande mudança nos rumos da economia, com maior protagonismo estatal em vez do foco no setor privado. Mas ainda há grande incerteza se a agenda de reformas iniciadas no governo Michel Temer será mantida.
“Nada garante que uma candidatura de centro-direita, comprometida com a continuidade da política econômica, vai ganhar. Há candidatos de viés mais populista, como Jair Bolsonaro e Ciro Gomes” disse. A leitura do especialista é de que, mesmo com o fim do julgamento em segunda instância, o PT ainda pode tentar viabilizar a candidatura de Lula.
O economista chefe da corretora Rico Investimentos, Roberto Idech, considera que a questão eleitoral é a principal influência para o setor financeiro neste ano. Segundo ele, dúvidas em relação ao crescimento da atividade e à inflação diminuíram ao longo de 2017. “Poderia ser a reforma da Previdência, mas o mercado não conta mais com isso”, afirma.
O governo diz que pretende votar a reforma nas aposentadorias e pensões em 19 de fevereiro, mas a aposta é de que não há votos necessários. Em relação às contas públicas, cujo aumento das dívidas levou a discussão se a “regra de ouro” – que proíbe aumentar o endividamento para pagar gastos correntes – o problema também deve postergado. “Assim como a Previdência, vai ficar para o próximo presidente”, disse Neto.