A combinação da desvalorização do real em relação ao dólar e o alto preço das commodities têm ditado a inflação dos preços no mercado brasileiro. Se há impacto nos preços ao consumidor, a inflação na indústria sente ainda mais os custos. O Índice de Preços ao Produtor (IPP), conhecido como “inflação na porta da fábrica”, já que não considera os valores de impostos e frete, subiu 3,36% em janeiro de 2021 frente a dezembro de 2020. No mesmo período, o IPCA, índice oficial de inflação do país, subiu 0,25%.
Segundo os dados divulgados pelo IBGE nesta terça-feira, 2, o IPP é bem maior que o apresentada na passagem de novembro para dezembro, de 0,39%, e representa a segunda maior alta da série histórica, iniciada em janeiro de 2014, atrás apenas de outubro de 2020 (3,41%). Com o resultado, o acumulado dos últimos 12 meses alcançou 22,96%. Boa parte da alta dos preços é absorvida pela indústria, mas isso tende a ser repassado ao consumidor conforme a retomada econômica. “As margens de lucros empresariais devem estar em queda uma vez que, sendo o IPP uma referência dos custos de produção, e sendo que a inflação ao consumidor está sensivelmente menor, a variável de ajuste será no lucro das empresas”, analisa André Perfeito, economista-chefe da Necton.
Vale ressaltar que a indicação do preço na indústria serve de alerta para a elevação dos preços e pode pesar na decisão do Banco Central sobre os caminhos da taxa básica de juros, a Selic.
Na indústria, as 24 atividades monitoradas pelo IBGE apresentaram elevação de preços, contra 17 em dezembro. Destaque para o setor das indústrias extrativas, que teve a maior alta (10,70%) e também registrou a maior influência no resultado geral. Assim, como já apontado no decorrer de 2020, a desvalorização cambial e o encarecimento das commodities no mercado internacional têm grande influência na alta. “É um segmento muito volátil, que voltou a ter alta após duas quedas, por conta da desvalorização do real frente ao dólar e do comportamento do óleo bruto de petróleo e do mercado internacional de minério de ferro”, explica o gerente da pesquisa, Manuel Souza Neto. No acumulado dos últimos 12 meses, o setor tem alta de 52,91%, a maior entre todas as 24 atividades.
Outra atividade que teve alta destacada na pesquisa foi metalurgia, a segunda maior (6,10%) do mês. O aumento de preços em janeiro foi o maior de toda a série histórica, ou seja, em 11 anos. O acumulado nos últimos 12 meses foi de 38,42%, também o maior da série. “Esses resultados estão ligados à combinação dos grupos siderúrgicos (produtos de aço) e do grupo de materiais não ferrosos (cobre, ouro e alumínio), que têm comportamentos de preços diferenciados”, ressalta o gerente. O primeiro é afetado pelos preços do minério de ferro e pelo excedente de aço no mundo. Apesar deste excedente, a valorização do dólar frente ao real, de 29,1% nos últimos 12 meses e de 4,1% em janeiro, junto ao aumento dos preços do minério de ferro permitiram um acréscimo de preços do aço nacional. Já o grupo de materiais não ferrosos tem valores que costumam apresentar seus resultados ligados às cotações das bolsas internacionais.
Segunda em influência e terceira maior alta no geral, a atividade de refino de petróleo e produtos de álcool (5,30%) tem seu resultado ligado aos produtos derivados do óleo bruto de petróleo, como gasolina e o óleo diesel. A alta dos preços nas refinarias feitas pela Petrobras nesse início de ano fizeram, inclusive, com que o presidente Jair Bolsonaro interviesse na petroleira e questionasse a política de preços. Já o biodiesel, entre os quatro produtos que mais influenciaram o resultado do mês, foi o único cujos preços diminuíram: “Isso se deve à menor demanda ou, o que é importante para o produto, à baixa compra em leilão promovido pela ANP (Agência Nacional do Petróleo)”, explica Manuel.