A percepção e os discursos de que há uma recuperação da economia e que o pior momento, ao menos nessa seara, já ficou para trás, vem se confirmando em números. O Índice de Gerentes de Compras (PMI) da indústria brasileira alcançou em julho o maior nível desde o início da pesquisa realizada pela IHS Markit, provedora inglesa de informações globais, em fevereiro de 2006. O número divulgado nesta segunda-feira, 3, é de 58,2%, ante 51,6% no mês de junho, e reflete a saúde de um importante setor da economia: o manufatureiro. Para seu cálculo, são considerados fatores como novas encomendas, produção, entregas de matéria-prima, níveis de estoque e empregos. Quando o número está acima de 50%, o setor está passando por crescimento em vez de retração. Ou seja, nos últimos dois meses, a indústria vem se recuperando, com alta importante em julho.
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Clique e AssineOs dados são reflexo do escoamento de uma demanda que ficou reprimida nos meses em que houve fechamento de atividades não essenciais como medida de prevenção contra o contágio de Covid-19 e consequente desaceleração econômica. Com isso, o recorde registrado em julho foi indiretamente causado pelo distanciamento social. No pós-lockdown, a capacidade produtiva e logística desse setor foi colocada à prova diante do aumento dos pedidos pendentes, o mais alto dos últimos dois anos. Outro bom indicador trazido pela pesquisa é que o índice de emprego aumentou para 52,3, pela primeira vez acima de 50 desde março. Além disso, a produção cresceu para 62,4, ante 54,6. Enquanto a demanda doméstica teve o segundo maior crescimento de pedidos da série histórica, atrás apenas do número registrado em janeiro de 2010, os pedidos do mercado exterior caíram pelo 11º mês consecutivo.
Apesar da queda nas exportações, o saldo é positivo e o índice de confiança sobre o futuro e a recuperação da economia também aumentou: mais de 80% das pessoas entrevistadas pela pesquisa acreditam que haverá crescimento e que as empresas recuperarão a queda das vendas e da demanda nos 12 meses subsequentes. “Uma expansão recorde da economia manufatureira brasileira em julho ajudou bastante a fechar a brecha considerável que surgiu na produção, quando comparada com os níveis observados antes da intensificação da Covid-19”, disse Paul Smith, diretor de Economia do IHS Market. “Contudo, com a Covid-19 ainda prevalecendo e continuando a ter um impacto negativo e considerável no comércio global, continuam a existir muitos riscos negativos para o futuro”, disse ele.
Vale lembrar que, apesar da alta, o Brasil tem, historicamente, baixa participação da indústria em suas exportações, devido ao ambiente de negócios desfavorável. De acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), entre 2009 e 2019 a exportação dos produtos manufaturados cresceu apenas 1%. A indústria manufatureira de um país é uma das principais responsáveis pelo crescimento de suas economias. Por possuir processos produtivos longos e demandar insumos e serviços, ela gera muitos empregos e renda e contribui com a balança comercial de um país. Para se ter ideia, o setor de manufatura foi o principal responsável pelo crescimento da China, aliado ao desenvolvimento tecnológico. Por isso os economistas torcem, ainda que com certo ceticismo, para que esse número continue crescendo independentemente do gargalo que se formou durante a pandemia.
Com Reuters