Apesar da redução do orçamento previsto para o ano que vem, o governo não deu ponto sem nó. Tidos como primordiais pelo presidente Jair Bolsonaro, que aderiu ao chapéu de engenheiro em obras no Norte e Nordeste para angariar apoio de olho em 2022, os ministérios da Infraestrutura, sob a batuta de Tarcísio Gomes de Freitas; e o do Desenvolvimento Regional, de Rogério Marinho, foram agraciados. Para além da dinheirama livre sem destinação definida, de 28 bilhões de reais, o Ministério da Economia reservou no Projeto de Lei Orçamentária entregue ao Congresso Nacional na segunda-feira um adendo nas despesas discricionárias — para que as pastas gastem como quiserem — para ambos os ministros.
Contrastando com a redução de quase 4 bilhões de reais no repasse para Tarcísio e em relação ao já empenhado este ano, e do contingenciamento de 9,4 bilhões do ministério de Rogério Marinho para o ano que vem, ambos vão ter mais recursos livres para entocar em obras. Tirando os recursos que têm destinação obrigatória, como com pessoal, a dinheirama liberada para Rogério Marinho passou dos atuais 4,3 milhões para 6,2 bilhões. A Infraestrutura teve adendo de 6,9 bilhões de reais para 8,1 bilhões de reais.
É a grande sina de Bolsonaro. Na reunião desta terça-feira, 1º, com lideranças parlamentares e o ministro Paulo Guedes, o presidente ouviu dos parlamentares que a agenda do chefe da Economia está respaldada, e o Congresso Nacional quer dar vazão às reformas. Por outro lado, ministros militares que ocupam gabinetes colados ao do presidente, no Palácio do Planalto, como Jorge Oliveira, da Secretaria Geral da Presidência, e Walter Braga Netto, da Casa Civil, sopram aos ouvidos do presidente as benesses de uma agenda desenvolvimentista. Rogério Marinho faz parte do segundo grupo, e cobra por mais atuações de Bolsonaro em regiões historicamente ligadas ao petismo de Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente procura demonstrar convicção e comprometimento com a pauta liberal de Guedes, a quem jurou fidelidade absoluta com o teto de gastos. Mas, influenciado pelo discurso de alguns ministros militares, ele flerta ao mesmo tempo com a perspectiva de usar todos os recursos de que dispõe para impulsionar sua popularidade e praticamente garantir seu segundo mandato. O anúncio do Orçamento trouxe certo alívio ao ratificar, ao menos por enquanto, que o Ministério da Defesa — apesar de agraciadíssimo — não terá mais recursos do que o da Educação, como aventava-se nos corredores do Palácio do Planalto. Por outro lado, o governo adiou, mais uma vez, a apresentação do Pró-Brasil, o pacote que define os investimentos públicos em infraestrutura. “As obras que se fazem depressa nunca são terminadas com a perfeição devida”, escreveu Miguel de Cervantes (1547-1616). E 2022 não está tão distante.