Não bastasse a crise econômica anunciada desde a chegada da Covid-19 ao país e a esperável deterioração fiscal, o Brasil ainda vivencia uma crise política, inflamada pela briga aberta entre o presidente Jair Bolsonaro com governadores em relação às políticas de isolamento e a demissão do então ministro da Justiça, Sergio Moro, além dos rumores incertos sobre a permanência de Paulo Guedes no comando do Ministério da Economia e os rumos para as saídas da crise. E as consequências começaram a chegar. A agência de classificação de risco Fitch Ratings informou nesta terça-feira, 5, ter revisado para negativa a perspectiva para a nota de crédito do Brasil, citando deterioração do cenário econômico e fiscal do país e renovada incerteza política.
Dúvidas sobre a duração e intensidade da disseminação do coronavírus no Brasil também foram apontadas pela instituição. Antes, a perspectiva para a nota era estável. Num cenário até mais otimista do que outras instituições, a agência projeta que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro contrairá 4% em 2020, antes de aumentar 3% em 2021. O Banco Mundial, por sua vez, prevê uma deterioração de mais de 5% da economia do país neste ano. O rebaixamento mostra que, internacionalmente, o país já não é visto como um destino tão seguro para os investimentos. A concorrente Moddy’s, por sua vez, no último dia 1º, manteve as perspectivas para a nota brasileira como estáveis, mas chamou a atenção para a deterioração fiscal do país.
A instituição manteve a nota de crédito do país em BB-, abaixo do grau de investimentos recomendável para atrair capital estrangeiro. “A pandemia e a recessão relacionada vão incrementar ainda mais o endividamento público, erodindo a flexibilidade fiscal e aumentando a vulnerabilidade e a choques”, disserta a Fitch.
Assim como ocorre nos serviços de proteção ao crédito, em que o histórico de adimplência ou inadimplência de uma pessoa é levado em conta para a liberação de financiamento e para a definição das taxas de juros, a nota de crédito de países e empresas é um termômetro de como credores e investidores percebem o país ou a empresa avaliada.
Se as finanças são sólidas, a comunicação com o mercado, clara, e o histórico de cumprimento de compromissos, bom, a nota dada pelas agências de rating é mais alta. Do contrário, se as agências veem problemas nas finanças dos países e empresas ou percebem que o cenário futuro não é promissor, elas rebaixam a nota. Muitos investidores importantes, como grandes fundos de pensão americanos, têm em seus estatutos a exigência de que seus recursos só sejam aplicados em países e ações de empresas que são investment grade.
(Com Reuters)