A economia brasileira está crescendo acima do esperado, e os dados da Pesquisa Industrial Mensal corroboram essa perspectiva. Segundo o IBGE, a produção industrial apresentou um crescimento de 1,1% em setembro na comparação com agosto, superando a expectativa de 1%. No trimestre, a expansão da indústria foi de 1,6%.
Segundo alguns dos economistas consultados por VEJA, a expansão industrial entra no conjunto de informações a serem analisadas pelo Comitê de Política Monetária, na decisão sobre juros na semana que vem, e pode reforçar o viés altista.
Na análise do comportamento da produção industrial, o economista Jason Vieira, diretor da Moneyou, considera em linha com a sazonalidade esperada. Ele destaca o crescimento de 4,2% da produção de bens de capital, que são usados para fabricar outros produtos, e a queda de 2,7% na produção de bens de consumo, aqueles comprados diretamente pelo consumidor. “Ou seja, existe ali um impacto, de alguma maneira, em algumas indústrias que podem estar se preparando para o fim do ano”, diz.
O dado, segundo ele, é mais um fator a ser levado em conta pelo Banco Central (BC) na decisão do Comitê de Política Monetária sobre os juros na semana que vem. “Com esses indicadores, o BC agora tem mais um trabalho para pensar em relação à atividade econômica depois de um mercado de trabalho bastante forte. Já tem dado suficiente para manter o ciclo de alta”, diz.
Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank, vê um risco inflacionário nessa expansão da produção nos últimos 12 meses, da ordem de 2,6%. “É importante lembrar que a utilização da capacidade total da indústria aumentou significativamente no último ano. No entanto, os investimentos não acompanharam esse crescimento. Com o aumento da utilização da capacidade, a demanda tende a superar a oferta, o que pode pressionar a inflação”, explica.
O avanço de 1,6% no mês evidencia uma atividade econômica sólida, e Claudia Moreno, do C6 Bank, prevê que o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá considerar o recente resultado na sua próxima reunião. Ela destaca que, apesar da desaceleração, a economia brasileira continua resiliente e em expansão “O PIB está desacelerando em relação ao que estava crescendo ali no primeiro e segundo trimestre, que tiveram crescimentos fortes, mas ele está desacelerando, mas ainda está em expansão”, diz. A projeção do C6 Bank é de alta de 0,6% no PIB do trimestre.
A recente revisão do BC do hiato do produto para positivo indica que a economia está crescendo acima da sua capacidade de oferta, podendo gerar pressões inflacionárias, afirma a economista. “Quer dizer que a demanda está acima da capacidade de oferta do PIB. E, se isso continuar assim, isso pode gerar inflação.”
O aquecimento do mercado de trabalho, com o recuo da taxa de desemprego para 6,4% no terceiro trimestre, 0,5% ponto abaixo na comparação com a taxa de abril a junho, é mais um fato de pressão na inflação. Isso porque eleva, sobretudo, a inflação nos serviços, setor sensível às variações de emprego, já que é intensivo em mão de obra.
“Isso também vai compor o agregado de dados que o Banco Central vai olhar, vai provavelmente ver atividade ainda resiliente, ainda em expansão, com um mercado de trabalho ainda bastante aquecido”, prevê Claudia. A projeção do C6 Bank é de alta de 0,50 ponto percentual na semana que vem.
Na análise de Marcos Moreira, da assessoria de investimentos WMS Capital, a preocupação do BC se volta para a inflação de serviços, e o dado industrial, apesar de forte, vai exercer pouca influência na decisão do Copom, que, segundo as suas projeções, já seria dessa magnitude de 0,5 p.p.
“Nós continuamos com o cenário base de que o Banco Central brasileiro deve subir a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, não apenas na reunião da próxima semana, mas também na reunião de dezembro”, diz.