Transformar aeroportos pequenos em negócios lucrativos é um desafio até mesmo em países onde a infraestrutura de transportes está longe de ser um problema. A desaceleração econômica – e também a recessão – provocadas pela crise financeira fizeram com que muitos aeródromos regionais se transformassem em elefantes brancos mundo afora. Na Espanha, a principal operadora aeroportuária do país, a estatal Aeropuertos Españoles y Navegación Aérea (Aena), anunciou no início de 2012 que apenas oito operações aeroportuárias eram lucrativas – de um total de 47. Nos Estados Unidos, muitos aeroportos regionais se transformaram em fardo para os municípios – e mais de 100 empreendimentos poderão ser fechados em 2013 quando o Congresso americano votar os cortes de gastos, em abril.
O caso espanhol é emblemático porque mostra que mesmo um país de pequena dimensão (se comparado ao Brasil) e alta dependência econômica do turismo não consegue equilibrar a conta do transporte aeroviário. Devido aos duros cortes de gastos públicos impostos pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o governo espanhol anunciou, inicialmente, uma redução nos horários de funcionamento de 19 aeroportos, com o objetivo de eliminar gastos e o número de funcionários. Tais aeródromos estão em uma espécie de lista negra: já foram avisados que, se não conseguirem, ao menos, receita suficiente para custear sua operação, serão fechados. Entre eles, estão aeroportos que servem cidades importantes da Espanha, como Córdoba, Pamplona, Vitória e San Sebastián. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento espanhol, o aeroporto da cidade de Huesca, na região dos Pirineus, teve, em 2011, uma média de oito passageiros diários.
Nos Estados Unidos, a Federal Aviation Administration (FAA) – a agência do governo que controla o setor aéreo – terá de reduzir seu orçamento em 1,35 bilhão de dólares em 2013 – caso os cortes de 2,2 trilhões de dólares para os próximos 10 anos sejam aprovados pelo Congresso americano. Os ajustes obrigarão o governo a demitir ou realocar cerca de 1 800 controladores, o que interromperia o controle aéreo em 106 aeroportos com baixo fluxo de passageiros – impossibilitando seu funcionamento. Dados do departamento americano mostram que 70% dos 730 milhões de passageiros que circulam anualmente no país voam para apenas 29 grandes aeroportos, de um total de 450 sob tutela da FAA. E apenas 5% do fluxo utiliza os 351 aeroportos menores espalhados pelo país. Os 70 aeroportos médios restantes são usados por 25% dos passageiros que circulam nos EUA.
Segundo reportagem do jornal americano The Wall Street Journal, habitantes de algumas cidades servidas por “aeroportos-fantasma” estão tentando transformá-los em centros logísticos de recebimento de cargas vindas da China. É o caso do aeroporto de Mascoutah, no estado de Illinois. A reportagem relata que pássaros voam dentro do terminal, o mato encobre o estacionamento e os contribuintes do município têm de cobrir um prejuízo anual de 1 milhão de dólares.
Na Polônia, há um exemplo mais recente de falta de planejamento aeroportuário e bastante similar ao que pode ocorrer no Brasil – ainda que em menor proporção. Em busca de desenvolvimento regional, o governo polonês ampliou, nos últimos cinco anos, a rede de aeroportos para além da capital, Varsóvia, na esperança de que a infraestrutura garantisse o aumento do turismo e dos negócios em regiões mais afastadas, como Lublin, na fronteira com a Ucrânia. Cinco novos aeródromos foram construídos no período, totalizando 16 em todo o país. Contudo, são fartas as críticas do setor ao planejamento aeroportuário do governo polonês, tendo em vista que poucos investidores se interessaram em construir empreendimentos nas áreas próximas aos terminais. O analista Adrian Furgalski, da consultoria polonesa Tor, escreveu um relatório sobre seu país que cai como uma luva para o Brasil.”Esses novos aeroportos precisam ser planejados. Um aeroporto sozinho não garante nada. São as conexões com outras cidades que fazem com que ele vingue ou não”.