Montadoras e revendas têm em estoque 103,7 mil veículos a mais do que foi produzido em setembro. O total do encalhe soma 404,5 mil veículos, enquanto a produção totalizou 300,8 mil unidades. Com esse excesso e vendas abaixo do previsto no mês passado, as empresas seguem adotando medidas de contenção, como férias coletivas e programas de demissão voluntária.
Em volume, o estoque atual é o maior dos últimos 10 meses. Em outubro do ano passado, chegou a 423 mil veículos. Em relação a agosto, cresceu 4,9%. Já em número de dias de vendas, caiu de 42 para 41 dias de um mês para o outro. As dispensas de trabalhadores também estão em alta. Ocorreram 1.174 cortes no mês passado, elevando para 9,2 mil o total de vagas fechadas neste ano. As fabricantes empregam hoje 147,7 mil pessoas, número mais baixo desde maio de 2012.
As vendas melhoraram em setembro na comparação com o mês anterior (alta de 8,7%), mas o setor esperava números melhores, diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan. “A retração do mercado leva ao alto estoque e o recurso que temos é aumentar as vendas ou reduzir a produção”, diz Moan. O setor, explica, está ajustando o estoque via produção e não vendas.
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Novos produtos – Confiante de que haveria uma retomada mais consistente e com novos produtos chegando ao mercado, a produção da indústria cresceu 13,7% em setembro em relação a agosto. Mas, na comparação com o mesmo mês de 2013, houve queda de 6,7%. No acumulado do ano, a redução é de 16,8%, para 2,384 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus.
Na outra ponta, as vendas já caíram 9,1%, para 2,526 milhões de veículos, mas a Anfavea aposta em uma melhora no fim do ano, em parte por causa das medidas de incentivo ao crédito lançadas recentemente. Moan diz que a média de licenciamentos de julho a setembro cresceu 3,9% em relação à do primeiro semestre. Mesmo assim, ele admite que não há como salvar o ano: as projeções são de queda de 5,4% nas vendas, de 10% na produção e de 29% nas exportações. As vendas ao exterior, por exemplo, já despencaram 38,5%.
O saldo negativo é puxado principalmente pela Argentina, que responde por cerca de 80% das exportações brasileiras. Além da crise cambial, o país lançou recentemente um pacote de incentivo à compra de carros, mas beneficia apenas os produzidos localmente. O Brasil costumava exportar 600 milhões de dólares mensais ao país vizinho, mas em setembro a Argentina liberou apenas 100 milhões de dólares para pagamentos, o que tornou inviável o envio de produtos. A GM, por exemplo, suspendeu as vendas ao parceiro.
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Para reduzir a dependência da Argentina nas vendas externas, o presidente da Anfavea iniciou recentemente uma peregrinação a diversos países para recuperar mercados perdidos. O primeiro deles foi a Colômbia, com quem a Anfavea espera fechar um acordo comercial ainda este ano. Os próximos serão Uruguai e Equador. Novas negociações com o México também serão iniciadas em breve, pois o acordo entre os dos países vence em março. Outro novo mercado recém-conquistado é o Zimbábue, que este mês recebeu o primeiro lote de 300 máquinas agrícolas brasileiras.
(Com Estadão Conteúdo)