A lira turca, que acumula uma desvalorização de 40% no ano, vem provocando um aversão global ao risco e saída de capital de países emergentes, como o Brasil. A queda da moeda turca se agravou na semana passada, com a ofensiva comercial dos Estados Unidos, que anunciou um aumento das tarifas de importação de aço e alumínio do país.
No Brasil, o dólar chegou a bater 3,92 reais nesta segunda-feira. Mas não é só por aqui que o dólar vem se valorizando. Em uma semana, o peso argentino perdeu 6% de seu valor, enquanto o rublo russo se desvalorizou 8%.
Neste momento de tensão financeira, os investidores temem que a crise turca contamine outros mercados, principalmente aqueles que dependem excessivamente do capital estrangeiro. Quem mais sofre com esse movimento são os países emergentes, como o Brasil.
“À medida que países emergentes têm problemas, investidores procuram aplicações mais seguras, como títulos do governo americano”, explica Mauro Rochlin, professor de economia da FGV Rio (Fundação Getulio Vargas).
O aumento do dólar acaba gerando uma pressão de preços. “Com a maior saída de dólares do Brasil, o câmbio brasileiro aumenta e pressiona os preços por conta do valor de artigos importados. Se a crise durar por muito tempo, a inflação pode aumentar no país”, afirma Juliana Inhasz, economista do Insper.
A professora, contudo, não acredita que a crise deve gerar um aumento de juros. “Acho improvável, porque a Turquia tem um mercado pequeno e o Banco Central tem uma boa reserva para segurar pressões temporárias como essa”, acrescenta.
Pressão do mercado
A crise monetária da Turquia, de forma geral, ocorre em meio à pressão do mercado para elevar a taxa de juros do país e a crise diplomática entre o governo turco de Recep Tayyip Erdogan e o de Donald Trump, dos EUA.
Na sexta-feira (10), Trump dobrou as tarifas de aço sobre a Turquia. As tarifas das importações de aço da Turquia subiram para 50% e do alumínio para 20%. A decisão acelerou queda da lira e aumentou o temor de que a moeda mais fraca aprofunde as fragilidades do país, pondo em risco a solidez do sistema financeiro da Turquia.
O governo americano também pressiona o presidente Erdogan para liberar o pastor evangélico americano Andrew Brunson, que foi detido em outubro de 2016 por acusações de espionagem.