O dólar chegou a ser cotado a R$ 6,10 durante o dia, mas recuou ligeiramente e fechou o dia vendido a R$ 6, ainda no maior patamar histórico. Na semana, a moeda acumula uma valorização de 3,42% na semana e 3,22% no mês. O Ibovespa conseguiu escapar, ao menos temporariamente, das pressões geradas pelo recente pacote fiscal do governo, encerrando o pregão com leve alta, aos 124,9 mil pontos. Esse movimento, no entanto, não foi suficiente para dissipar o clima de incerteza que paira sobre o mercado financeiro brasileiro.
No início do pregão, o índice enfrentou uma queda acentuada, demonstrando a falta de confiança dos investidores nas medidas apresentadas pelo governo, particularmente no pacote de R$ 70 bilhões. Contudo, declarações do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, destacando o compromisso com o ajuste fiscal, ajudaram a aliviar momentaneamente o pessimismo. A recuperação das bolsas americanas no mesmo período também contribuiu para que o Ibovespa revertesse parte das perdas.
No entanto, analistas alertam que esse alívio é apenas temporário. “Ainda existe muita desconfiança sobre a capacidade do governo de entregar um pacote fiscal crível”, explica Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital. Ele ressalta que, sem um plano fiscal concreto que demonstre controle dos gastos públicos, o mercado continuará nervoso, e a volatilidade deverá marcar presença.
A cautela do mercado reflete-se também nos juros futuros, que continuam pressionados. A falta de clareza nas medidas fiscais gera um ambiente de aversão ao risco, aumentando a percepção de que a trajetória fiscal brasileira pode deteriorar-se ainda mais. Essa incerteza mantém o dólar forte em relação ao real, que segue pressionado não apenas pelo cenário doméstico, mas também pelo cenário externo de maior aversão ao risco com os conflitos no Oriente Médio, no Leste Europeu e com a eleição de Donald Trump, que gera preocupações pela sua postura protecionista.
O dólar, que já registra um viés de alta, pode continuar sua trajetória ascendente na próxima semana, especialmente se o governo não apresentar medidas fiscais que tranquilizem os investidores. Alguns analistas projetam que, sem uma resposta convincente, a moeda americana pode continuar oscilando entre R$ 5,80 e R$ 5,90. Em um contexto global de persistente preocupação com a inflação nos Estados Unidos e tensões geopolíticas, o real parece destinado a seguir enfraquecido até que o mercado veja sinais mais claros de estabilidade nas finanças públicas.
“A recuperação do real enfrenta um caminho tortuoso”, observa Iarussi. “Sem um pacote fiscal robusto e confiança no controle dos gastos do governo, o dólar continuará forte.” Ele acrescenta que, mesmo com sinais positivos vindos do governo, uma recuperação significativa da moeda brasileira ainda dependerá de uma série de fatores externos, como a postura do Federal Reserve em relação à inflação e a evolução das tensões comerciais globais.
Na próxima semana, os olhos do mercado estarão voltados tanto para o cenário doméstico quanto para o internacional. No Brasil, os desdobramentos do pacote fiscal e as respostas do governo às críticas serão fundamentais para o direcionamento dos ativos. Internacionalmente, dados sobre a inflação nos EUA e discussões comerciais entre grandes economias globais continuarão influenciando o humor dos investidores.