O dólar encerrou o dia com alta de 2,67%, valendo 3,81 reais – maior alta desde 18 de maio do ano passado, quando disparou 8,15% após delações de executivos da J&F acertarem em cheio o presidente Michel Temer. Nem mesmo as intervenções do Banco Central (BC) foram capazes de segurar a valorização da moeda.
A valorização de hoje foi influenciada pelos mercados externos, após o Banco Central Europeu (BCE) anunciar que vai acabar com seu programa de compras de títulos no fim deste ano, mas que isso não significava juros maiores no curto prazo. O mercado local também foi pressionado pela perspectiva de que está chegando ao fim o plano anunciado pelo Banco Central de intervir mais pesado até o fim dessa semana.
“O BC colocou 100 mil lotes extras de swaps (venda de dólar para conter a oscilação da moeda) no mercado, o que totalizou cerca de 5 bilhões de reais e mesmo assim a moeda seguiu se valorizando”, diz o gerente de câmbio da Treviso, Reginaldo Galhardo.
Desde sexta-feira passada, quando o BC anunciou que interferiria mais fortemente no câmbio, os leilões de swaps já somam 18 bilhões de dólares. O mercado segue testando o limite da autarquia monetária. “Ontem, foram três intervenções. Hoje, mais três. Mesmo assim o BC não está conseguindo quebrar essa espiral de alta”, avalia.
A decisão do banco europeu vem um dia depois de o Federal Reserve, banco central americano, ter anunciado que pretende elevar os juros quatro vezes neste ano, ambas decisões com implicações sobre o fluxo global de recursos e impacto sobre países emergentes, como o Brasil.
Os profissionais das mesas de operações no Brasil citavam que contribuía ainda para reforçar o salto do dólar ante o real a proximidade do fim do lote de 20 bilhões de dólares em swaps cambiais tradicionais que o BC sinalizou que injetaria no mercado até esta semana.
“O estoque do BC está acabando. Voltou a especulação, o mercado está chamando o BC, quer saber o que ele vai fazer”, comentou o gerente de câmbio da corretora Ourominas, Mauriciano Cavalcante.
No cenário interno, ainda pesam o cenário político e o impacto da greve dos caminhoneiros sobre as contas do governo.
(Com Reuters)