O número de pessoas na procura por emprego no Brasil aumentou em 1,2 milhão no primeiro trimestre deste ano, período em que a pandemia causada pelo novo coronavírus começava a tomar força no país. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupação subiu para 12,2% no primeiro trimestre deste ano, alta de 1,3 ponto porcentual na comparação com o último trimestre de 2019, que foi de 11%. Os dados são da Pnad Contínua, divulgada nesta quarta-feira, 30. Ao término de março, o Brasil somava 12,9 milhões de desempregados.
De acordo com o IBGE, houve perdas em todas as atividades no período: indústria (2,6%), construção (6,5%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (3,5%), alojamento e alimentação (5,4%), outros serviços (4,1%) e serviços domésticos (5,9%).
Apesar dos recuos, o Instituto evita creditar diretamente aumento no número de desempregados ao coronavírus porque os dados englobam os primeiros três meses do ano, e a pandemia acelerou no Brasil em março. O primeiro caso de coronavírus no país foi confirmado no fim de fevereiro, enquanto a primeira morte pela doença foi confirmada nas primeiras semanas de março. Entre o fim da primeira quinzena e início da segunda, estados e municípios passaram a adotar medidas de distanciamento social, com o fechamento de comércios e serviços não essenciais, com impacto mais direto na economia.
Segundo a analista da pesquisa, Adriana Beringuy, o aumento no número de desempregados no primeiro trimestre do ano é normal, pela sazonalidade do período, já que os contratos de temporários da época do Natal se encerram e há mais gente na fila por emprego. Além da sazonalidade, o coronavírus provocou um salto no período, mas em 2017, por exemplo, o aumento foi mais elevado. “Grande parte do trimestre ainda está fora desse cenário (da Covid-19). Não posso ponderar se o impacto da pandemia foi grande ou pequeno, até porque falamos de um trimestre com movimentos sazonais, mas de fato para algumas atividades ele foi mais intenso”, comentou.
Apesar da dificuldade de mensurar o impacto da pandemia na perda de postos de trabalho, já é possível notar perda de postos informais, grupo formado por trabalhadores sem carteira assinada ou que trabalham por conta própria. A taxa de informalidade recuou de 41% no último trimestre de 2019 para 39,9% no primeiro trimestre deste ano, o que representa 36,8 milhões de trabalhadores. Para este grupo, inclusive, o governo paga um auxílio emergencial no valor de 600 reais para evitar a perda completa de renda no período de pandemia.
Beringuy destaca também a queda de 2,5% no contingente da população ocupada, cerca de 2,3 milhões de pessoas. Segundo ela, foi o maior recuo de toda a série histórica e refletiu nos serviços domésticos (-6,1%), que também apresentou a maior queda da série. O recuo de 7% no emprego sem carteira assinada do setor privado também foi recorde. Emprego com carteira também caiu. Os postos formais recuaram -1,7% (menos 572 mil pessoas) frente ao trimestre anterior. Ao todo, há 33,1 milhões de pessoas com carteira assinada no país, segundo a pesquisa.
“Ou seja, foi uma queda disseminada nas diversas formas de inserção do trabalhador, seja na condição de trabalhador formal ou informal. O movimento, contudo, foi mais acentuado entre os trabalhadores informais. Das 2,3 milhões de pessoas que deixaram o contingente de ocupados, 1,9 milhão é de trabalhadores informais”, disse a analista da pesquisa.
Coleta por telefone
A Pnad é, atualmente, a única pesquisa oficial sobre dados do mercado de trabalho brasileiro e, em função da pandemia de Covid-19, as coletas estão sendo feitas por telefone. “A taxa de resposta da PNAD Contínua em março de 2020 foi de 61,3% (em janeiro foi de 88,4% e fevereiro 87,9%). Frente a essa performance, foram feitas análises sobre os impactos na taxa de desocupação e rendimento médio habitual, em que não se observou aumento significativo nos coeficientes de variação, tornando viável a divulgação dos dados do primeiro trimestre de 2020”.
Segundo o instituto, o número do telefone de contato para alguns domicílios visitados anteriormente pelo IBGE já constava na base de dados da PNAD Contínua. Através do pareamento da lista de domicílios da pesquisa com bases de dados disponíveis no próprio Instituto e diversas ações promovidas nos 27 estados, está sendo possível obter os telefones para realização da pesquisa.