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Como políticas do Fed e do BCE impactam no dólar e no euro

Enquanto Powell compra do Tesouro, Lagarde incentiva bancos; Eleições americanas e demora na recuperação da economia europeia influenciam as moedas

Por Luisa Purchio 7 out 2020, 17h09
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  • Desde o início da pandemia da Covid-19, o euro vem se valorizando em relação ao dólar. Após atingir o pico de 1,1936 dólar no dia 31 de agosto, no entanto, ele perdeu levemente sua força e estacionou na casa dos 1,17 dólar. Essa semana, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, deu declarações reforçando que a crise do novo coronavírus ainda é incerta e impacta de maneiras diferentes os países do bloco europeu. Diante da falta de previsão sobre o término da crise e, principalmente da recuperação do mercado de trabalho, Lagarde reafirmou nessa quarta-feira, 7, que o pacote de auxílios será mantido “até que consideremos que a fase de crise da Covid-19 acabou, mas em qualquer caso não antes do final de junho de 2021”. A política do BCE para incentivar a economia é peculiar e muito diferente do que acontece nos Estados Unidos, por isso, as moedas se valorizam de forma diferente.

    “As empresas americanas usam o mercado de capitais para se financiar, através de debentures e commercial papers. O mercado de capitais é muito desenvolvido então o Fed entra no mercado comprando títulos públicos, fazendo operações twist para abaixar o juros para as empresas”, diz Simão Davi Silber, professor de Economia da USP. Em ata divulgada nessa quarta-feira, 7, sobre a mais recente reunião do FOMC realizada entre os dias 15 e 16 de setembro, os membros do Fed concordaram em manter o juros em zero e esperam que a economia não irá se recuperar até 2023 e 2024. Além disso, eles continuarão comprando títulos do tesouro e lastreados em hipotecas a um ritmo de 120 bilhões de dólares por mês, o que pode ser aumentado na próxima reunião. Sobre as compras de títulos com vencimento de até três anos, eles podem ser rolados para prazos mais longos, o que pode reduzir as taxas do longo prazo sem influenciar no preço de compra.

    Na Europa é diferente porque as empresas dependem dos bancos para se financiar, e não do mercado de capitais. Por isso o pacote de auxílio do BCE está tão relacionado à compra de títulos públicos dos bancos. Dessa forma, os bancos europeus se capitalizam para emprestar recursos às empresas, principalmente as de maior porte. Em alguns países da Europa, empresas menores e, portanto, com um pouco mais de dificuldade para conseguir crédito, também contam com garantias do Tesouro.

    Para Lagarde, a prioridade da sua política monetária é auxiliar principalmente na criação de vagas de trabalho, que vem diminuindo devido às novas ondas de infecção na Europa. De acordo com o BCE, cerca de 13,5 milhões de pessoas estão em programa de retenção de emprego na zona do euro, aproximadamente 8% da força de trabalho. Mesmo assim, Lagarde espera que o desemprego, que foi de 8,1% em agosto, aumente no futuro. “De acordo com as projeções macroeconômicas dos funcionários do BCE de setembro, o desemprego deverá aumentar de 7,3 por cento no primeiro trimestre de 2020 para 9,5 por cento em 2021, antes de cair para 8,8 por cento em 2022”, disse ela.

    Questionada sobre a demora na retomada do consumo e no aumento da inflação, que continuam sendo pressionados para baixo, Lagarde argumentou que isso depende de uma recuperação mais forte do mercado de trabalho. Especialistas em economia questionam, porém, o seu programa de incentivos. Para Ludmila Faye, ex-professora de economia no Instituto de Estudos Políticos de Lille e de sociologia econômica na Universidade de Versalhes Saint-Quentin-em-Yvelines, a política econômica do BCE não está funcionando porque sua dinâmica seria equivocada. “Parece uma política keynesiana, no entanto, os canais pelos quais o dinheiro criado é injetado na economia importam muito e a tornam mais uma política de oferta voltada para as empresas e proprietários de ativos do que para a demanda”, diz ela.

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    O principal efeito esperado que não está acontecendo é a retomada do consumo e da inflação na Europa. A inflação na zona do euro subiu de maio a julho, mas se tornou deflação de -0,2% em agosto e -0,3% em setembro, apesar do juros zero. Para analistas, isso acontece porque a política monetária não consegue se espalhar para a economia real uma vez que as empresas não estão dispostas a arriscar grandes investimentos e as pessoas não estão comprando. Na França, por exemplo, um grande número de pessoas foi aos bancos de alimentos pela primeira vez e houve um aumento de 10% na demanda pelo Renda de Trabalho Solidária (RSA na sigla em francês), benefício do governo para aqueles que não tem renda. “Os mais pobres ficaram ainda mais pobres e são eles que gastam todo o seu orçamento para o consumo. Os ricos têm uma menor propensão para consumir”, diz Faye.

    EURO E DÓLAR

    As dificuldades de recuperação da economia europeia impactam inevitavelmente na força do euro em relação ao dólar, enfraquecendo-o. Além de depender das políticas do BCE e da contenção das novas ondas de infecção do novo coronavírus, no entanto, a moeda europeia está diretamente relacionada a um novo pacote de benefícios nos Estados Unidos. Para se ter ideia, o DXY, o índice que mede a força do dólar em relação a uma cesta de moedas, a principal delas o euro, teve a sua maior baixa do ano no dia 31 de agosto, em 92,1440, mas depois voltou a subir. Ontem o presidente americano, Donald Trump, cancelou as negociações entre os democratas e os republicanos sobre o tema até as eleições presidenciais. A falta de injeções americanas na economia indica que, pelo menos até o pleito, no dia 3 de novembro, o dólar não se desvalorizará significativamente em relação a outras moedas mundiais, entre elas o euro.

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