A pressão dos preços persistentes, justificativa para a manutenção dos juros altos por parte do Banco Central, deve continuar. Dados do Relatório Trimestral de Inflação aumentaram a probabilidade de o indicador furar o teto da meta do governo de 57%, na edição publicada em janeiro, para 83% no relatório divulgado nesta quinta-feira, 30, levando ao terceiro ano consecutivo de estouro.
A meta preestabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) está fixada em 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto (de 1,75% para 4,75%).
O documento aponta que as projeções para o IPCA em 2023 subiram de 5% em dezembro para 5,8% agora. “A revisão ocorreu principalmente em função de perspectiva de alta mais forte em preços administrados (de 6,1% para 9,4%).” Segundo o BC, a alta nos preços administrados reflete os efeitos das reonerações de impostos, como os tributos sobre combustíveis. A autoridade monetária cita a decisão do Supremo que suspendeu a regra que alterava a base de cálculo para o ICMS sobre a energia elétrica. Além disso, a alta de 20% nas taxas de emplacamentos e licenciamentos de veículos também pesa nos preços administrados.
Essa pressão inflacionária reafirma a visão mais contracionista do Banco Central para com a taxa básica de juros. A Selic está em um patamar de 13,75%, o maior desde 2016, e vem atraindo a artilharia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus aliados mais próximos.
As projeções apresentadas no relatório usam informações disponíveis até a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 21 e 22 de março. Por isso, o BC fala da apresentação do arcabouço fiscal, que começou a vazar na quarta-feira e será detalhado nesta quinta como “incerteza”. A autoridade monetária pondera, porém, que o novo conjunto de regras “deve trazer maior clareza sobre a sustentabilidade da dívida pública, com repercussões sobre expectativas de inflação, prêmios de risco e, indiretamente, sobre a atividade econômica”.
Anos seguintes
Não foi só o risco de estouro em 2023 que subiu. Segundo o relatório de inflação, a probabilidade de estouro em 2024 foi de 14% para 26% e, em 2025, de 11% para 17%. O IPCA de 2024 foi revisto de 3,2% para 3,6% e para 2025 subiu de 2,8% para 3%. A meta estabelecida para esses anos é de 3%, com teto em 4,5%.
Quando a inflação anual fica fora do intervalo de tolerância, o presidente do BC precisa escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda explicando os motivos que levaram ao não cumprimento da meta e detalhando ações que serão tomadas para corrigir o problema.