O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, fechou aos 103.905 pontos, queda de 1,18%, — a maior desde o dia 25 de junho — influenciado pela preocupação de investidores com os prazos de tramitação da reforma da Previdência. Membros do governo e líderes partidários já começam a sinalizar a possibilidade de que o texto só termine de ser votado na Câmara dos Deputados em agosto. Já o dólar fechou em queda de 0,32%, cotado aos 3,74 reais na venda, menor valor desde 27 de fevereiro.
A sexta foi marcada pela votação dos destaques na Câmara, processo que até o fechamento do mercado não tinha acabado. A demora na aprovação está dificultando o cenário para o governo, que esperava encerrar toda a tramitação na Casa até o dia 18 de julho, quando começa o recesso parlamentar. Com isso, membros do alto escalão e deputados já começam a considerar a possibilidade de esse prazo não ser cumprido, o que estressou o mercado.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é um deles. Na manhã desta sexta ele disse que “o importante é terminar o primeiro turno hoje”, afirmou. “Depois disso vamos ver se o quórum se mantém para sábado, semana que vem ou agosto”, completou. A princípio o plano do governo era, se preciso, votar o texto no plenário, em segundo turno, no sábado. No entanto, muitos deputados já têm viagens marcadas, o que atrapalharia o quórum.
Para André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, além da preocupação com o prazo, os investidores também estão atentos com a dificuldade do governo na votação dos destaques, receosos por uma possível desidratação do texto. “Essa preocupação de passar para a agosto gerou nervosismo. A preocupação central é que tenha um retrocesso no texto base”, afirmou. “Parece pouco, mas em 15 dias o clima político pode mudar totalmente”, completa o economista.
O cenário, no entanto, não é “desastroso”, segundo Perfeito. Para ele, a bolsa tem subido de forma relevante ao longo de junho, o que torna normal a realização de lucros e, consequentemente, a queda do índice.
O dólar continuou sua trajetória de queda, apesar do cenário de incertezas que envolve a reforma. “Não necessariamente é automático [o dólar subir quando a bolsa cai]. Ele está em um momento de queda, por causa da tendência de corte de juros nos Estados Unidos”, opina o economista. O presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), Jerome Powell, deu sinais nesta semana de que a próxima reunião deve ser de corte de juros, o primeiro em uma década. Atualmente a taxa está entre 2,25% e 2,5%.