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Após forte tombo nas vendas de minério, Vale tem grandes desafios em 2020

Devido ao desastre de Brumadinho (MG), mineradora registrou queda brusca nas exportações em 2019; este ano não será menos trabalhoso

Por Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 14h53 - Publicado em 11 fev 2020, 20h06
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  • “Uma boa forma de ir além do possível é marchar na direção do impossível”. A máxima cantada pelo empresário Eliezer Batista, precursor da extração de minério de ferro brasileiro no século passado, não previa os descalabros recentes envolvendo seu principal — mas nunca único — ganha-pão. Dificilmente ele, morto em 2018, teria imaginado a situação na qual se colocou a empresa que ajudou a transformar num império, a Vale. Nesta terça-feira, 11, a companhia divulgou em relatório a queda de 21,5% da produção de minério de ferro em 2019, em comparação ao ano anterior. O tombo é decorrente do episódio do rompimento de uma barragem em Brumadinho, em Minas Gerais, que culminou na morte de pelo menos 259 pessoas. A este cenário de tragédia social e econômica outros se somam em 2020, dificultando a recuperação da mineradora.

    De acordo com o relatório, a companhia mantém a estimativa de produção entre 340 milhões de toneladas e 355 milhões de toneladas para 2020 — o que motivou a alta de suas ações na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3. O resultado de um ano ruim já era esperado — e já estava previsto pelos investidores. As ações da empresa subiram 3,71% no pregão desta terça. Mas o bom-humor é apenas especulativo. A empresa, assim como os acionistas e investidores, sabem do perigo que vem do outro lado do mundo envolvendo a produção do insumo: a disseminação do coronavírus que acomete a China e já deixou mais de mil pessoas mortas no país. 

    A China, com a indústria parada por conta da doença, é o principal destino do minério de ferro brasileiro e responsável pela compra de 64% de toda a produção, segundo dados da BMJ Consultores Associados. A Vale, porém, informou que vai manter o abastecimento do país inalterado — e cumprir compromissos já firmados —, apesar do coronavírus.

    A queda no ritmo de alastramento do vírus na terça-feira tranquilizou os produtores e fez crescerem os olhos dos investidores. O contrato futuro mais negociado na bolsa chinesa teve alta de 4,4% no pregão, com a expectativa de controle mais rápido da epidemia. Em sete meses, foi a maior alta registrada em um dia. Manter o otimismo, porém, é prematuro ainda. As exportações do Brasil despencaram de 1,4 milhão de toneladas registrados na primeira semana de fevereiro de 2019 para 1,2 no mesmo período neste ano, segundo dados do Ministério da Economia — uma queda de 14%. Isso acontece num momento em que as previsões de controle do coronavírus, e as consequências da epidemia, ainda são completamente incertas.

    Para efeito de comparação, o efeito de Brumadinho sobre as vendas de minério de ferro no período resultou numa queda de 12,8% na comparação anual — totalizando embarques de 269,3 milhões de toneladas. No quarto trimestre, a empresa amealhou resultados 22,4% mais tímidos do que o mesmo período no ano anterior. Além disso, como VEJA revelou,  os processos da empresa nos Estados Unidos podem custar até 660% a mais do que os valores acordados com as famílias vitimadas pela tragédia em Minas Gerais, somando 5 bilhões de dólares. Resta, assim, caminhar para o impossível, como sacramentou Eliezer, para enfrentar esses desafios.

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