O Comitê de Política Monetária (Copom) anuncia nesta quarta-feira, 22, sua decisão sobre a taxa básica de juros, a Selic. E apesar das pressões crescentes para a diminuição dos juros, o mercado financeiro projeta que o BC deve manter a taxa em 13,75% pelo quarto encontro consecutivo.
Desde a última reunião do Copom, encerrada em 1º de fevereiro, as expectativas para a inflação se deterioraram ainda mais. Ao fim de janeiro, o Boletim Focus estimava o IPCA em 5,74% e, no relatório pulicado na segunda-feira, o mercado projeta a inflação oficial em 5,95%, seguindo acima do teto da meta e ainda mais pressionada. Além disso, o núcleo da inflação brasileira é alto, o que pesa para que o BC faça um corte maior nos juros. As expectativas inflacionárias de longo prazo para os próximos dois anos também subiram, com projeções acima de 4% em 2024 e próximas a esse patamar em 2025, afastando-se da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
As pressões para a diminuição da Selic, entretanto, vêm de todos os lados. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, volta e meia, sobe o tom contra Roberto Campos Neto, titular do BC, pedindo desde a mudança nas metas de inflação, consideradas muito baixas, até questionamentos sobre a independência do Banco Central. Há pressões também vindas do setor produtivo, em especial da indústria. O encarecimento do crédito tanto para empresas quanto para o consumidor, diminui a demanda.
“A discussão sobre reduzir a taxa é válida e existe sim espaço para isso. Mas o governo precisa fazer o seu dever de casa, dar sinalizações mais claras de que tem responsabilidade fiscal, buscar reverter o quadro de desancoragem da inflação, e adotar um tom mais ponderado ao abordar questões nefrálgicas para a saúde da economia a longo prazo, para que o tão almejado crescimento do país, seja sustentável”, afirma Bruno Monsanto, assessor de investimentos e sócio da RJ+ Investimentos.
Porém, a maior diferença entre o Copom dessa semana e a última reunião é a mudança do cenário internacional. Nas duas últimas semanas, houve a eclosão de uma crise bancária, com a quebra dos bancos americanos Silicon Valley Bank e Signature Bank e o derretimento do suíço Credit Suisse, agora vendido para o maior banco do país, o UBS. No caso dos bancos americanos, de médio porte, a alta na taxas de juros e o desbalanceamento das carteiras culminou na quebra das instituições, subindo a pressão para que o Federal Reserve Bank (FED) reduza os juros por lá, numa reunião que também acontece nessa quarta-feira. O cenário internacional pressiona os juros aqui, apesar de não haver sinais de contágio no sistema bancário brasileiro, mas por mostrar o aperto das condições internacionais.
A maioria dos especialistas de mercado espera que a taxa Selic comece a diminuir no segundo semestre deste ano, com a possibilidade de chegar entre 12,75% a 12,25% em dezembro. No entanto, uma parte do mercado acredita que o Banco Central tem espaço para iniciar a redução das taxas de juros nos próximos meses. Por isso, além da decisão dos juros em si, o comunicado do comitê é muito aguardado para sinalizar os rumos da política monetária daqui em diante.