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Antigos fiéis, empresários reveem apoio ao governo de Jair Bolsonaro

Nomes como Luciano Hang, da Havan, e Gabriel Kanner, presidente do grupo empresarial Brasil 200, externam preocupações com rumos do governo Bolsonaro

Por Felipe Mendes Atualizado em 24 abr 2020, 18h48 - Publicado em 24 abr 2020, 16h51
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  • Diversos empresários, muitos dos quais formam a cadeia dos principais apoiadores do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), estão desiludidos com o pedido de demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça, e das recentes intervenções do ministro da Casa Civil, o general Braga Netto, sobre a economia – escanteando Paulo Guedes, ministro da Economia. Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, é um deles. Em entrevista a VEJA, externou a sua preocupação com a mudança: “O Moro era uma das pérolas do governo. Eu sempre o apoiei, por tudo que ele fez pelo Brasil. Ele é um herói vivo”, disse. “É uma grande perda para o governo Bolsonaro.”

    Eles acreditam que o projeto engendrado por Braga Netto é perigoso e, caso confirmado, pode levar o governo ao caminho do ‘desenvolvimentismo’, estratégia usada por governos populistas de crescimento a qualquer custo. “O ministro Paulo Guedes faz um bom trabalho. Eu acredito que, neste momento em que estamos vivendo, nós temos que ter a capacidade de reduzir a máquina pública e acreditar no setor privado. Sou contra a máquina pública voltar a fazer um movimento desenvolvimentista, a criar uma política que era empregada pela Dilma. Já vimos que isso não dá certo”, disse a VEJA Luciano Hang, enquanto visitava a obra de uma futura unidade da Havan a ser inaugurada na cidade de Gravataí (RS).

    Além do desgosto em ver Guedes perder força à frente da Economia, os empresários se assustaram com a demissão de Sergio Moro, uma das principais estrelas do governo e o pilar de sustentação de grupos de apoio. “Esperamos não ter uma nova perda do tamanho da do ministro Sergio Moro, que é um herói vivo da nação brasileira”, afirmou Hang. “O ministro Paulo Guedes e o Sergio Moro são o que sustentam o apoio do empresariado ao governo. Esperamos que o Paulo Guedes se mantenha no cargo”, complementou.

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    Para o presidente da rede Polishop, João Appolinário, que também faz parte do movimento Brasil 200, ainda é cedo para avaliar os impactos da saída de Moro na economia e até na popularidade do governo Bolsonaro. “A princípio, não é bom perdermos mais um ministro. Acabamos de ter a saída do Luiz Henrique Mandetta [do Ministério da Saúde]. Mas é normal, faz parte da democracia”, disse. “Mas o problema maior do momento é o que estamos vivendo na saúde pública. Isso é ruim. Nós deveríamos estar mais preocupados em resolver esse problema de saúde que estamos vivendo”, alerta.

    José Carlos Semenzatto, presidente da rede de franquias SMZTO e amigo de Appolinário – os dois fazem parte do reality show Shark Tank –, também acredita que é cedo para avaliar os impactos da saída de Moro e pede explicações de Bolsonaro. “Obviamente, o presidente perde um elo de apoio muito importante, e isso pode desestabilizar. Queremos ouvir o presidente para ver qual a versão dele, pois não há dúvidas sobre a credibilidade e moralidade do ministro Moro”, disse. “Lamentável terminar uma sexta-feira como esta”, desabafa.

    Gabriel Kanner, presidente do Instituto Brasil 200, grupo que reúne empresários liberais — que, até o momento, apoiava o governo Bolsonaro – se diz frustrado com a demissão de Moro. “A saída do Sergio Moro abala qualquer confiança que poderíamos ter no Bolsonaro”, afirmou. “Não só a saída dele destrói um dos pilares de sustentação do governo, mas as acusações feitas pelo Moro em seu discurso são extremamente graves. Mostra uma faceta que nós não conhecíamos do presidente até então, de querer interferir no trabalho da Polícia Federal. É, realmente, uma decepção completa para todos que acreditaram que o Bolsonaro pudesse representar uma transformação profunda da política brasileira, uma verdadeira limpa na corrupção do país. Isso abala completamente o apoio que o nosso grupo e que vários outros empresários detinham no governo”, desabafou.

    Segundo ele, além da troca na pasta da segurança pública, o governo passa, neste momento, por um processo de “fritura” do ministro Paulo Guedes, principal peça de apoio por parte do empresariado brasileiro. “Estamos vendo um processo de isolamento e de fritura do ministro Guedes, que é uma pessoa de confiança dos empresários, e que vinha promovendo uma recuperação econômica, com reformas e privatizações. Mas, o anúncio do programa Pró-Brasil, do qual ele não faz parte, é muito ruim. Eu não me surpreenderia se o Guedes saísse do governo em breve”, disse Kanner. Para ele, a equipe econômica de Guedes desempenha bem suas funções como forma de mitigar os impactos da pandemia do coronavírus (Covid-19) na economia nacional. “Nós precisamos adotar o caminho do liberalismo que vinha sendo defendido pelo Guedes. Passada a crise, teremos que rapidamente voltar a destravar o mercado e criar um ambiente de negócios mais propício aos empreendedores. Só assim nós vamos conseguir recuperar a economia do país. Não será por meio de um plano central estatal que isso será feito”, afirmou. A julgar pelo descontentamento do empresariado, Bolsonaro sai enfraquecido desta quebra de braço com Moro. Resta ver até onde irá a pressão exercida sobre o ministro Paulo Guedes.

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