A ofensiva de Marcelo Odebrecht contra a empresa põe em risco a recuperação judicial do conglomerado. A revelação de e-mails enviados pelo ex-mandachuva a seu pai, Emílio Odebrecht, caíram como uma bomba dentro da empresa. Nesta quinta-feira, 19, o jornal Folha de São Paulo divulgou mensagens do ex-mandatário da companhia acusando o pai de ser o responsável pela bancarrota da empresa. Na alta cúpula do conglomerado, o clima é de revolta com o primogênito. A avaliação dos altos executivos da Odebrecht é de que a insistência do filho em ditar os rumos da empresa pode colocar em xeque a boa vontade dos bancos privados em aceitar os termos insossos propostos pela companhia perante a Justiça, enquanto negocia fora dos tribunais com os detentores de mais de 50 bilhões de reais em créditos para tirar o conglomerado do buraco.
No âmbito da recuperação judicial da Odebrecht, os maiores credores são os três grandes bancos públicos — BNDES, Caixa e Banco do Brasil — e as três mais importantes instituições financeiras privadas do país — Itaú, Bradesco e Santander. A empresa teme que as negociações, que caminhavam de vento em popa fora dos tribunais com os bancos privados, sejam meladas pela influência de Marcelo dentro da empresa. As instituições públicas demonstram resistência a aceitar termos mais leves, enquanto os advogados da companhia apresentam termos vagos apenas para cumprir prazos com a Justiça. As últimas duas reuniões entre os bancos e a Odebrecht acabaram sem acordo. A assembleia marcada para esta quinta será adiada para janeiro.
O presidente da holding, Luciano Guidolin, foi pego de surpresa pelos e-mails de Marcelo. O atual mandatário ficou furioso com a revelação e a gritante influência de Marcelo na empresa. Na segunda-feira 16, Emílio, chefão da Kieppe, holding que comanda a Odebrecht, determinou a troca de Guidolin no comando da empresa. Ele será substituído por Ruy Sampaio, então presidente do conselho da companhia. E o troca-troca de comando também pode influenciar nos planos para que a empresa saia viva dos tribunais.
A estratégia da Odebrecht para se reestruturar envolve vender a Braskem, o braço petroquímico do conglomerado, e focar sua operação na construção civil. Para isso, Guidolin indicou Juliana Baiardi, então presidente da Atvos, empresa alcooleira da Odebrecht, ao comando da OEC, antiga Odebrecht Engenharia & Construção. A pedido de Emílio, ela substituiria Fábio Januário no comando da empresa. Para formalizar a mudança, a empresa instituiu um conselho — presidido pela própria executiva —, mas a aprovação do seu (ou qualquer outro) nome para comandar a OEC não foi para frente. A construtora está sem comando desde outubro.
Marcelo e Emílio nunca se deram bem. A agressividade, porém, ficou mais clara desde a morte do pai de Emílio, Norberto Odebrecht, e a prisão de Marcelo no âmbito da Operação Lava-Jato, em 2015, quando Emílio foi obrigado a reassumir a companhia. Desde então, o pai prepara o filho caçula, Maurício (até então à parte dos negócios do império Odebrecht) para tomar as rédeas da empresa quando deixar a Kieppe. Para mostrar influência, desde sua soltura, Marcelo Odebrecht vinha dando as caras na empresa. Seu objetivo era mostrar que era querido entre os funcionários e afastar a pecha de malquisto. Emílio pôs fim às visitas: na última segunda-feira, Marcelo Odebrecht foi barrado na portaria da companhia — aquela que estampa seu sobrenome na porta.