Brasil e México concluíram nesta quinta-feira a modificação do acordo automotivo bilateral, estabelecendo cotas de exportação de veículos mexicanos ao mercado doméstico por três anos. Depois disso, os dois governos devem retornar ao regime de livre comércio. A revisão foi oficializada na noite desta quinta-feira, na Cidade do México, pelo secretário da Economia do país, Bruno Ferrari.
Pela nova proposta, o México concordou em reduzir as exportações ao Brasil para uma média de 1,55 bilhão de dólares nos próximos três anos, disse Ferrari. As autoridades acertaram que os mexicanos poderão exportar 1,45 bilhão de dólares em veículos ao país no primeiro ano; 1,56 bilhão de dólares no segundo ano; e 1,64 bilhão de dólares no terceiro ano. No ano passado, o México vendeu 2,4 bilhões de dólares em automóveis ao mercado brasileiro.
O Brasil pediu a revisão do acordo automotivo depois que as exportações de carros do parceiro da América do Norte saltaram cerca de 70% em 2011. A cota fixa é recíproca, pelos termos do acordo. Ferrari disse que os dois governos também concordaram que o México aumente a proporção de peças da América Latina em seus carros de 30% atualmente para 40% em um prazo de cinco anos.
As concessões mexicanas ficaram próximas daquelas que eram solicitadas pelo governo Dilma. A primeira proposta do Brasil era que o México exportasse anualmente 1,4 bilhão de dólares por três anos. Além disso, o governo brasileiro exigia elevação do índice de peças regionais nos carros que saíam das fábricas do México para 45%.
A disputa, que demorou semanas para ser encerrada, estava deixando as relações entre as duas maiores economias da América Latina tensas, em um ambiente de cada vez mais medidas de protecionismo.
Repercussão – Analistas avaliam que o Brasil pode ser bem-sucedido na redução do déficit comercial com a economia mexicana. Contudo, eles apontam que uma cota para as exportações mexicanas não vai resolver os problemas que estão fazendo com que as montadoras brasileiras sejam menos competitivas que suas rivais de outros mercados.
Os fabricantes de veículos no Brasil são prejudicados por uma moeda local mais forte que o peso mexicano e, principalmente, por altos impostos e salários. O país está se esforçando para fortalecer sua indústria após as exportações do setor terem caído no ano passado na competição com produtos mais baratos da China, do México e de outros países.
Investimento em risco – Montadoras asiáticas baseadas no México experimentaram um significativo aumento em exportações para o Brasil nos últimos anos, beneficiando-se da relativa debilidade do peso mexicano e da força do real para turbinar seus lucros. A manobra do Brasil para limitar o comércio pode ameaçar planos anunciados recentemente pela Honda e pela Mazda de construir fábricas no estado de Guanajuato.
O acordo automotivo Brasil-México também pode afetar os planos da Nissan de construir uma fábrica no estado de Aguascalientes. Especialistas da indústria de automóveis disseram que as empresas fazem investimentos no México baseadas, em parte, em expectativas de que o país tenha acesso irrestrito ao mercado brasileiro.
(com Reuters)