As montadoras de veículos instaladas no Brasil enfrentam o pior trimestre de produção de veículos desde 2004, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Em números totais, divulgados nesta segunda-feira, 10, a produção acumulada entre janeiro e março é de 538 mil veículos, cerca de 50 mil unidades abaixo dos níveis pré-pandemia. Para veículos pesados, houve redução de cerca de 30% no volume de produção. Segundo Maurício de Lima Leite, presidente da entidade, os dados refletem o resfriamento da demanda, influenciado pelo atual patamar da taxa Selic, atualmente em 13,75%.
“Temos uma preocupação grande para o aquecimento do mercado. E a principal razão para isso é o atual patamar de juros no país. Caso nós não tenhamos condições melhores, o mercado não vai reagir”, afirmou Leite. Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano, maior patamar desde 2016. A expectativa do mercado para a taxa básica é de 12,75% ao ano, segundo o Boletim Focus, enquanto para o término de 2024 a expectativa é de 10% ao ano.
“Nesses três primeiros meses tivemos oito paralisações de fábrica e dois cancelamentos de turno, algo semelhante às paradas verificadas no início de 2022. A diferença é que no ano passado o motivo era somente a falta de componentes, enquanto agora já há outros fatores provocando férias coletivas, como o resfriamento da demanda”, diz Leite, lembrando que há novas paralisações em fábricas anunciadas para abril, desacelerando ainda mais a produção.
Apesar das consequências dos juros altos no setor, o presidente da Anfavea evitou engrossar o coro das críticas diretas a atuação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. “Nós tivemos a oportunidade de parabenizá-lo pela autonomia, mas principalmente pelo não-isolamento. O que ele tem feito é debater e apresentar as razões pelas quais os juros se encontram no patamar atual. Isso é importante”, afirmou.
Desaceleração
As vendas acumuladas de automóveis no trimestre foram de 472 mil unidades. O crescimento de 16,3% sobre o mesmo período do ano passado poderia indicar sinais de recuperação, mas a base de 2022 é muito baixa, já que faltavam carros nas concessionárias. Em relação aos volumes de antes da pandemia, a defasagem é superior a 20%. “A fotografia do momento seria pior se não fossem as boas vendas para locadoras em março, 28% do total”, analisou Leite.
As exportações em março mantiveram a média diária de 1.900 unidades de fevereiro, o que indica o cumprimento de contratos com os principais destinos, mas sem grande crescimento de volumes. Na comparação trimestral, as 112,2 mil unidades embarcadas entre janeiro e março representaram crescimento de 3,9% sobre o mesmo período de 2022.