Fato raríssimo ao anteceder grandes eventos internacionais, o ambiente nos gabinetes do Ministério da Agricultura expira tranquilidade. A ministra Tereza Cristina viu com ótimos olhos a mudança de comando no Itamaraty, com a troca de Ernesto Araújo e a posse de Carlos Alberto França como novo chanceler. Agora, às vésperas da Cúpula do Clima, que será realizada virtualmente entre os próximos dias 22 e 23, Tereza dorme tranquila com as diretrizes alinhadas junto ao novo chanceler — o que jamais acontecera durante a gestão de Araújo.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, convidou o presidente Jair Bolsonaro para o encontro organizado pela Casa Branca. Antes esnobado pelo Palácio do Planalto, o evento é visto como uma oportunidade para melhorar a imagem do país no exterior, estreitar as relações com os Estados Unidos e evitar a fuga de investimentos do país.
Empossado no último dia 6, o novo ministro das Relações Exteriores já teve mais encontros e reuniões com a chefe da Agricultura do que o antecessor, segundo auxiliares da ministra. Vale lembrar que Araújo estava no posto desde o início do governo, em janeiro de 2019. Um dos únicos remanescentes da chamada ala ideológica do governo, o ex-chanceler e a ministra não se davam bem. Tereza, por sinal, era encarregada de levar a diplomacia nas costas, paralelamente aos descaminhos de Ernesto Araújo no Itamaraty. Ela era chamada de “chanceler informal” por colegas de Esplanada dos Ministérios.
Apesar de já terem protagonizado discordâncias, Tereza Cristina e Ricardo Salles vêm se entendendo melhor. Auxiliares da ministra veem uma mudança de atitude do titular do Meio Ambiente em meio às pressões do Centrão. Junto a França, a dupla Tereza e Salles alinhou os discursos para aplainar as críticas à sustentabilidade do agronegócio brasileiro e a desinformação dos estrangeiros em relação à produção brasileira. Ela não comparecerá ao evento organizado por Biden.
Meio Ambiente
Apesar da melhora nas relações, o ministro do Meio Ambiente vem sendo alvo de críticas nas redes sociais graças às costuras junto aos Estados Unidos por recursos para a preservação da Amazônia. Em entrevista ao jornal O Globo, Salles afirmou que solicitou 1 bilhão de dólares para reduzir o desmatamento da região em 40% em um ano. O plano será apresentado durante a Cúpula do Clima. O acordo pleiteado pelo governo brasileiro representa uma mudança de estratégia. No ano passado, ainda durante a campanha para a Casa Branca, Joe Biden afirmou que repassaria 20 bilhões de dólares ao Brasil para que o país preservasse suas florestas. Foi desancado por Salles e Bolsonaro. “Nossa soberania é inegociável”, escreveu Bolsonaro no Twitter, na ocasião. Os fatos mostram que há espaços para negociações.