A Associação Internacional de Integridade nas Apostas (Ibia, na sigla em inglês) tem acompanhado de perto a repercussão para o mercado de apostas de todo o escândalo que envolve a manipulação de jogos nos principais torneios de futebol do país. Em entrevista a VEJA, Khaled Ali, CEO da entidade que representa um conjunto de 120 casas de apostas esportivas que movimentam mais de 137 bilhões de dólares no mundo, pede que, caso seja comprovada a interferência nos jogos, como apura o Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), sejam aplicadas “sanções severas” aos envolvidos. Ali foi convocado na última segunda-feira, 22, pelo deputado André Figueiredo (PDT-CE) a prestar depoimento na CPI da Manipulação das Partidas de Jogos de Futebol.
O CEO da entidade diz que a única forma de mostrar que demais acusações do tipo não serão toleradas é por meio da punição severa. Ele também afirma saber sobre casos semelhantes em outros esportes. “A Ibia recebeu alertas em sua cobertura de sete esportes diferentes no Brasil entre 2018 e 2022. Ou seja, isso não é apenas uma questão de futebol”, afirma ele. “Embora precisemos ressaltar que 99,9% dos mercados de nossos membros não tenham alertas de apostas suspeitas, é necessário um esforço coletivo e intersetorial para identificar e eliminar a corrupção e impedir a infiltração de criminosos e atividades criminosas no esporte do Brasil.”
As casas de apostas alegam serem vítimas de fraudadores do sistema e que são as principais interessadas na resolução dos casos. “As casas de apostas têm todo o interesse em cooperar e ver as sanções impostas. A Ibia e seus membros estão prontos para fazer sua parte e colaborar com os formuladores de políticas para garantir que o Brasil aproveite todos os benefícios de um mercado de apostas dinâmico e competitivo, reduzindo os riscos de manipulação de resultados”, complementa ele.
Em 2021, a entidade lançou um guia de melhores práticas para o mercado. O documento aponta que a perda das plataformas por casos de manipulação de resultados mundo afora chega a cerca de 25 milhões de dólares ao ano e que casos assim podem afastar o consumidor. “O custo em termos do impacto da reputação na integridade do mercado de apostas esportivas é muito mais difícil de se avaliar, mas claramente os consumidores relutam em se envolver em um produto que acreditam poder ser manipulado”, admite o executivo.
Um projeto de lei, aprovado em 2018, durante o governo de Michel Temer, previa a liberação e regulamentação desse mercado no país, mas seu sucessor, Jair Bolsonaro, com medo de causar intriga com sua base de apoiadores, em especial, os evangélicos, optou por não seguir com o projeto, deixando o segmento em uma espécie de limbo. Hoje, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva analisa possibilidades para que a atividade gere receita para os cofres públicos. “A regulação do mercado de apostas brasileiro é um passo crucial para abordar questões de integridade no mercado, com supervisão regulatória, monitoramento e denúncia de apostas suspeitas de acordo com os protocolos de segurança dos operadores do mercado. Isso protegerá não só o mercado, como os esportes e também os consumidores, direcionando-os para empresas responsáveis”, conclui Ali.