A instabilidade econômica acima da média esta semana tem causa e efeito. Para continuar o combate à inflação, o Federal Reserve, o banco central dos EUA, elevou as taxas de juros em 0,75 ponto porcentual nesta quarta-feira, seu maior movimento desde 1994, e acima do 0,5 ponto do último ajuste e do que era aventado pelo mercado. O Banco Central do Brasil, por sua vez, anuncia ainda hoje o aumento na taxa de juros, e por aqui é esperado ritmo menor na aperto, em 0,50 ponto. Nesta chamada superquarta os mercados acompanham com atenção minuciosa as sinalizações de continuidade ou retração na política monetária. O ponto focal é as possíveis decisões das autarquias nas próximas reuniões, considerando que os aumentos de hoje já são tidos como certos.
Em seu comunicado, o Fed afirmou que está “fortemente comprometido” em levar a inflação para a meta, que é de de 2% ao ano. Na última reunião, o Fed indicava uma elevação de 0,50 ponto, mas após o índice de preços ao consumidor registrar alta de 8,6% em maio, no acumulado de 12 meses, o balanço de riscos mudou.
A inflação nos Estados Unidos e no Brasil continuam em cenário de forte alta, com poucas perspectivas de arrefecimento no curto prazo. Dado os níveis inflacionários altíssimos, os bancos centrais são pressionados a elevar mais as taxas de juros. “Agora, o mercado acredita que o juro nos EUA vai ficar cerca de um ponto percentual acima do que estava sendo projetado há pelo menos um mês. O que sustenta essa mudança de perspectiva em relação ao juro americano tem nome e endereço certo: a divulgação do resultado de maio da inflação ao consumidor, que superou as expectativas de mercado”, diz Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos
O resultado com as taxas de juros elevadas nos EUA é um estresse global. No caso do Brasil, há uma maior sensibilidade. “Quando se tem aversão ao risco, o Brasil sofre mais. Se há um diferencial de juros mais baixos do Brasil em relação aos EUA, aumenta o custo de oportunidade de manter o dinheiro no Brasil”, diz Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos. Considerando que os investidores sempre buscam maior segurança e rentabilidade, a decisão de aumento das taxas de juros nos EUA é um estímulo maior para investidores buscando proteção das carteiras de ativos. Em outras palavras, juros altos nos Estados Unidos costuma significar dólar saindo do Brasil.
Victal também destaca os efeitos na inflação do país. “Se o Fed sobe mais rápido (a taxa de juros), há uma pressão na taxa de câmbio do Brasil e câmbio mais desvalorizado é um panorama inflacionário pior para o país”, avalia a economista, considerando que dólar mais alto frente ao real aumenta os preços das importações de insumos para as empresas. Além disso, com o dólar mais caro, os preços das commodities e mesmo o combustível ficam mais pressionados.