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Van Morrison protesta contra isolamento social em novo disco

Negacionista, cantor lançará três canções contra medidas de segurança da administração britânica para conter pandemia

Por Amanda Capuano 18 set 2020, 16h59
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  • O cantor norte-irlandês Van Morrison, 75 anos, dono dos hits Brown Eyed Girl e Domino, lançará três músicas de protesto como parte de sua cruzada contra o distanciamento social no Reino Unido. Born to Be Free, a primeira delas, sai dia 25 de setembro, enquanto As I Walked Out e No More Lockdown chegam ao público, respectivamente, em 9 e 23 de outubro. “Eu não estou dizendo às pessoas o que fazer ou pensar, o governo tem feito um bom trabalho quanto a isso”, declarou ao anunciar as canções.

    Gravadas recentemente em Belfast, capital da Irlanda do Norte, e na Inglaterra, as músicas acusam o governo do Reino Unido e os cientistas de usarem “fatos distorcidos” para ceifar a liberdade da população — o governo britânico, aliás, é personagem recorrente nas três canções, segundo trechos divulgados na imprensa local. “O novo normal não é nada normal, todos parecem ter amnésia. Não preciso do governo limitando meu estilo, dê a eles uma polegada, e transformarão em uma milha”, canta em Born To Be Free. “Em 21 de março de 2020, o site do governo dizia que a Covid-19 não era mais de alto risco, dois dias depois, eles nos colocaram em lockdown”, diz um trecho de As I Walked Out.

    Última música a chegar ao público, No More Lockdown vai mais longe, e carrega referências mais explícitas de negacionismo. No refrão, o cantor pede pelo fim de excessos do governo e “bulies fascistas que perturbam nossa paz”, e acusa a administração britânica de tirar a liberdade de população “fingindo que é para nossa segurança, quando na verdade é uma escravidão.” Nas letras, percebe-se indiretas mais do que diretas ao primeiro-ministro Boris Johnson, que instaurou o lockdown no país em 23 de março.

    Criticado no início da pandemia por sua postura também negacionista, o primeiro-ministro deu-se por vencido quando o Imperial College de Londres, chefiado pelo então conselheiro do governo Neil Ferguson, apresentou um modelo estatístico que encaminhava o país para 250.000 mortes caso não houvesse uma mudança de estratégia – em junho, Ferguson afirmou ao The Guardian que metade das vidas perdidas teriam sido poupadas caso a medida de isolamento tivesse sido adotada uma semana antes.

    Esta, porém, não é a primeira vez que o o cantor assume um posicionamento polêmico e perigoso diante da pandemia. Em agosto, o cantor publicou em seu site oficial um comunicado, não mais disponível, em que defende apresentações com capacidade máxima de público, e convoca artistas para rebelarem-se contra a “pseudociência” do confinamento. “Convoco meus colegas cantores, músicos, compositores, produtores, promotores e outros da indústria a lutarem ao meu lado nisso”, diz em um trecho. “Levantem-se, combatam a pseudo-ciência e se posicionem. Shows com distanciamento social não são economicamente viáveis”.

    Dada as perdas na indústria do entretenimento, a preocupação econômica seria até compreensível, não fosse o fato do Reino Unido estar às vésperas de uma segunda onda de infecções. Nesta sexta-feira, 18, o ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, anunciou que as internações por Covid-19 no país estão dobrando a cada oito dias. Desde o início do mês, a curva de contágios voltou a subir, ultrapassando quase que diariamente 3.000 novos casos desde 11 de setembro. Com os números em ascensão, Boris Johnson declarou nesta sexta-feira que a segunda onda de infecções está se aproximando e teme ser “absolutamente inevitável” – momento nem um pouco propício para shows lotados, ou canções negacionistas.

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