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Três motivos que tornaram o stand-up ‘Nanette’ a atual febre da Netflix

Monólogo de Hannah Gadsby quebrou os padrões do estilo ao questionar o próprio modelo da comédia de palco

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 jul 2018, 11h02 - Publicado em 20 jul 2018, 10h19

Não é todo dia que um espetáculo de stand-up provoca emoções como indignação e até tristeza seguida de choro – isso mesmo, lágrimas podem correr quando o assunto é Nanette, espetáculo da comediante australiana Hannah Gadsby. Aliás, o termo stand-up parece inadequado para definir o gênero do monólogo que se tornou, no último mês, uma febre entre os assinantes da Netflix. A revista americana Slate classificou a peça como uma “tragédia stand-up” e se desdobrou em elogios. No site agregador de resenhas Rotten Tomatoes, aliás, a aprovação de Nanette é rara: 100% dos críticos elogiaram o trabalho da comediante de 40 anos que decidiu, no palco, explicar por que desistiu da comédia. Mas o que faz do espetáculo algo tão singular?

 

Excesso de honestidade

É costume, na comédia stand-up, que a pessoa com o microfone na mão faça da própria vida motivo de piada. O artificio que expõe fragilidades do artista no palco pode ser visto como um excesso de honestidade, mas Hannah prova o contrário. A comediante cresceu na Tasmânia, onde a homossexualidade era crime até 1997. Assim, seu desenvolvimento sexual foi encoberto por camadas de medo e preconceito. Ela fala sobre o processo no monólogo e sobre como foi se abrir para a mãe, mas não para a avó, que ainda a questiona sobre namorados. O trecho em tom humorístico é mesmo engraçado, no entanto, quando ela se aprofunda nas experiências, revelando os sofrimentos causados pela homofobia e como algumas piadas camuflavam a verdade dos acontecimentos, a sensação despertada é outra. Hannah ainda provoca a comunidade gay e questiona as muitas cobranças para que use mais “conteúdo lésbico” em seus shows.

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Piadas em tempos de #MeToo

Se lançasse Nanette há míseros três ou cinco anos, Hannah passaria despercebida no catálogo do site de streaming. O tempo não poderia ser mais propício para uma mulher que desafia estereótipos de gênero segurar uma plateia durante uma hora para alfinetar padrões e, claro, atitudes machistas. Espinafrar homens poderosos acusados de assédio também faz parte do roteiro. Nomes como Harvey Weinstein e Bill Cosby são citados, mas ela ultrapassa o tribunal hollywoodiano para jogar na fogueira quem ficou no passado e não teve a chance de ser julgado pelas redes sociais, caso de Pablo Picasso. Apesar de não citar diretamente movimentos feministas, como o #MeToo, Hannah é fruto do espírito de seu tempo, e conseguiu espaço justamente por isso.

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Adeus, comédia

O mote do espetáculo é o anúncio de que Hannah vai deixar a comédia. Os motivos são variados, mas o principal é a base autodepreciativa do stand-up. Outro momento forte do monólogo é quando ela se preocupa com o que fazer a seguir, já que é formada em história da arte – assunto que não a interessa mais. A humorista então percorre a obra e vida de alguns grandes nomes. Muitos são alvos de críticas, enquanto Van Gogh ganha espaço em sua gaveta de empatias. O gênio sofria com doenças mentais, outro tema tabu comumente usado de forma jocosa por comediantes. Ela faz questão de ir pelo caminho contrário. O trecho é um dos melhores da apresentação. A aposentadoria, contudo, ficou no ar agora que o espetáculo se tornou um sucesso em diversos países. Será que Hannah vai cumprir a promessa?

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