Se Robert Smith estivesse na plateia de seu próprio show, provavelmente ficaria tão decepcionado que dificilmente voltaria a se importar em fazer um show tão longo quanto os que vem fazendo. O vocalista da banda The Cure, que se apresentou no sábado em São Paulo, fez uma apresentação competente de 3h15 de duração, com 40 músicas no setlist, e mal demonstrou cansaço nesse tempo. O público, porém, era um caso a parte. Sim, havia, entre as 30.000 pessoas (segundo a organização), fãs que conheciam praticamente todo o repertório. Pena que eles contrastavam com a maioria, que só estava lá para ouvir hits radiofônicos do grupo, como Boys Don’t Cry e Friday I’m in Love.
A espera da plateia por esse tipo de hit ficou visível quando, após tocarem cada uma delas, a pista premium esvaziou-se de tal maneira que quem estava lá atrás conseguiu chegar bem perto do palco. E, durante as demais, o público aproveitava para por a conversa em dia – em alto e bom som – em rodinhas de conversa, ou debandava para buscar cervejas e energéticos. Houve relatos de situações semelhantes na pista normal.
Público desinteressado e desrespeitoso à parte, o Cure fez um show delirante para os fãs, com execuções mais do que competentes de músicas como A Forest e The Caterpillar feitas pela banda, composta hoje pelo baixista Simon Gallup, único membro original além de Smith, o tecladista Roger O’Donnell, que entrou para a banda em 1987, o baterista Jason Cooper, no grupo desde 1995, e o guitarrista veterano Reeves Gabriels, colaborador frequente de David Bowie.
Smith, então, mesmo aos 53 anos, continua agindo como o jovem que fundou o grupo no fim dos anos 70. Boca borrada de batom, olhos com maquiagem preta e cabelo bagunçado, vestindo uma túnica de paetês e um coturno com plataforma, ele pareceu à vontade. E foi se soltando ainda mais durante o show, soltando alguns “obrigado” e fazendo suas famosas dancinhas — além de algumas caretas, mais para o fim do show. Um “figura”.
O setlist foi bem semelhante ao que o grupo havia feito na quinta-feira no Rio de Janeiro, com 27 músicas na primeira parte do show — que, mesmo durando cerca de 2h, não é nem um pouco cansativa –, um bis de três músicas e outro de nove, que contêm as músicas mais agitadas, e favoritas dos fãs.