A edição desta semana de VEJA traz reportagem sobre a esperada segunda temporada da série Stranger Things, que acaba de ser lançada pela Netflix. O ANO DE 1984 transcorria com fidelidade exemplar aos livros de história no lugarejo fictício de Hawkins, no Meio-Oeste americano. O presidente Ronald Reagan singrava sua bem-sucedida campanha à reeleição. Com a Guerra Fria em curso, os americanos ainda se arrepiavam diante da possibilidade de um conflito nuclear contra os soviéticos. Para quebrar a tensão no ar, havia o colorido peculiar da cultura pop dos anos 80: amava-se o filme Ghostbusters (no Brasil, Caça-Fantasmas) e ouvia-se a new wave grudenta do Devo e do Oingo Boingo. Os adoráveis protagonistas infantis de Stranger Things viviam tudo isso com a sofreguidão típica do período. Só que a década de 80, na ótica deles, extrapolava de longe a realidade concreta: suas aventuras avançavam para o terreno dos sonhos e, sobretudo, dos pesadelos do imaginário do período — tendo por lastro o universo fantástico de Steven Spielberg ou os filmes de horror de seu colega John Carpenter.
Se a primeira temporada de Stranger Things já se esmerava nessa irresistível mistura de nostalgia e viço inovador, seus criadores, os irmãos Matt e Ross Duffer, redobram a aposta na nova leva de capítulos. A realidade em Hawkins é cada vez mais opressiva. A chegada ao pedaço de um metaleiro violento e aparentemente racista aumenta o mal-estar social. E o laboratório do governo que realiza experiências inomináveis na cidadezinha continua a atuar com a mesma desenvoltura cínica, afetando até a lavoura de abóboras para o Halloween. A menina Eleven (Millie Bobby Brown) vive emparedada entre as dores do crescimento de alguém com superpoderes e as ameaças que emanam de uma dimensão paralela habitada por monstros feitos de ectoplasma repulsivo. Mas é o retorno ao lar de Will (Noah Schnapp), o miúdo garoto com cabelo tigela que passou quase toda a primeira temporada desaparecido, que vem catalisar a nova temporada: enquanto ele tenta manter um pé no mundo real, o outro é sempre puxado para a tenebrosa dimensão alternativa.
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