Pedro Morelli tem só 29 anos, mas já assina seu segundo longa-metragem. Zoom, exibido na seção Vanguarda do 40º Festival de Toronto, é uma coprodução Brasil-Canadá rodada nos dois países, falada em inglês e estrelada por Gael García Bernal, Mariana Ximenes e Alison Pill (das séries The Newsroom e In Treatment). Antes, ele tinha codirigido Entre Nós (2013) com seu pai, Paulo Morelli, sócio da produtora O2 com Fernando Meirelles.
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Zoom foi realizado a convite do produtor canadense Niv Fichman, que conheceu o então estagiário Pedro durante as filmagens de Ensaio sobre a Cegueira (2008), dirigido por Meirelles. Seu pedido: alguma coisa original, com uma pegada nova. Assim, o jovem diretor bolou a trama em que Emma (Alison Pill), cartunista que trabalha numa fábrica de bonecas infláveis, está escrevendo uma história sobre o cineasta Edward (Gael García Bernal), que deseja fazer seu primeiro filme sério em Hollywood, sobre a brasileira Michelle (Mariana Ximenes), uma modelo que quer ser romancista. Para cada um dos segmentos, foi usada uma estética diferente, inclusive animação. O projeto começou cinco anos e meio atrás, quando Pedro tinha 23 anos, e só ficou pronto agora. O diretor conversou com o site de VEJA sobre o longa:
De que forma chegou ao visual, especialmente ao trecho de animação? Como são três histórias em mundos paralelos, frutos de uma mídia diferente – um é um livro, outro, um filme, e o terceiro, uma história em quadrinhos -, tinha tudo a ver fazer um visual diferente para cada. A animação foi porque era natural que os desenhos dos quadrinhos criassem vida. Eles têm três estéticas diferentes, mas isso ajuda a contar a história, não era só uma firula.
A parte de animação foi tranquila de fazer? Não. Nunca tinha feito. Foi uma loucura, muito trabalho. A técnica que a gente usou foi a rotoscopia, em que você filma os atores e desenha em cima, quadro a quadro. São cerca de 30 minutos de animação, foram 12 quadros por segundo, ou seja, mais de 20 mil quadros. Tínhamos 25 desenhistas fazendo o trabalho. Foram uns cinco meses para chegar lá.
O ator mais famoso do seu filme é o Gael García Bernal, e ele só aparece na forma de animação. Não ficou nervoso? Faz parte do espírito do filme. Desde o começo, a intenção era ser uma experiência. Pegar a maior estrela do filme e desenhar em cima da imagem dele faz parte do espírito, de quebrar as regras.
Pensa em continuar trabalhando no Brasil e no exterior? Estou pensando nisso, sim. Tenho um agente internacional, estou lendo roteiros e tentando achar uma coisa bacana. Tenho vários projetos no Brasil, os próximos com certeza vão ser lá. Estou preparando a série Rua Augusta, para a TNT, e um longa. Gosto do Brasil. Espero fazer outros filmes internacionais. Mas quero ir e voltar.
Seu pai, Paulo Morelli, é cineasta e sócio da O2 com o Fernando Meirelles. Como eles influenciaram o projeto e sua carreira? Eles são produtores do filme, participaram de tudo. Os dois têm uma figura de mentores para mim. Eles são sócios, vejo os dois trabalhando há anos, o que é muito inspirador. Foi a principal influência que eu tive para me apaixonar pelo cinema e querer trabalhar com isso.
Sente responsabilidade de ser a nova geração da O2? Acho que sim. Mas gosto disso. É uma responsabilidade, mas de um jeito positivo. É uma possibilidade de fazer coisas bacanas, foi uma abertura para começar cedo minha carreira de diretor. É um privilégio. Trabalho muito duro para fazer o melhor uso da chance que tenho. Claro que adoraria fazer filmes fora da O2 também.
Costumava ir para o set quando pequeno? Sim. Esse ambiente sempre foi familiar para mim. Tinha câmera em casa, brincava de fazer filme e editava, desde uns 7 anos. Acho que está no DNA.
Então sempre quis ser cineasta? Quase sempre. Quando chegou perto do vestibular, fiquei preocupado de estar indo na onda do meu pai. Tive esse questionamento. Até fiz orientação vocacional. E percebi que gostava mesmo. Claro que a influência do meu pai foi enorme para eu gostar tanto de cinema, mas é uma coisa minha.
Mas por que gosta de ser diretor? É a possibilidade de decodificar algo que quer dizer para o público. No Zoom, por exemplo, queria falar sobre nossa sociedade superficial, em que todo o mundo segue um padrão de beleza, e isso vira uma norma. Tentei achar um jeito divertido, lúdico, em que a pessoa nem percebe que está pensando sobre isso.