Ao receber o troféu de melhor direção pelo filme O Ornitólogo, no 69º Festival de Locarno, na Suíça, no último sábado, o diretor português João Pedro Rodrigues fez uma declaração surpreendente. Ao mesmo tempo em que agradeceu o reconhecimento da produção realizada entre Portugal, Brasil e França, ele disse, em tom de desabafo, estar indignado com o fato de não ter recebido nenhum centavo pelo trabalho, assim como mais de dez profissionais de sua equipe, incluindo atores e diretores de fotografia e de som.
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O longa narra a história de um homem de 40 anos que, fascinado por aves, decide descer um rio de caiaque em busca de raras cegonhas negras. Sem estreia prevista no Brasil, mas seguindo a rota dos grandes festivais pelo mundo, o filme teve como produtora majoritária a empresa portuguesa Blackmaria, que deveria fazer o repasse dos valores. Procurado pela reportagem, o dono da produtora, João Figueiras, reconheceu que deve cerca de 40 000 apenas à equipe, sem contar o cachê do diretor. “Vamos acertar isso o quanto antes”, afirmou.
Sua justificativa para o não pagamento envolve o Brasil. Segundo Figueiras, os problemas começaram por causa da documentação exigida pela Ancine, a Agência Nacional do Cinema no Brasil, para viabilizar a parceria com uma produtora brasileira, que acabou sendo trocada no meio do processo. “Como é possível haver tanta burocracia”, questiona Figueiras. O produtor afirma ainda que a desvalorização do real (o projeto começou em 2011) prejudicou o repasse da verba brasileira, que seria equivalente a 150 000 dólares.
A Ancine rebateu as acusações de João Figueiras com indignação, dizendo que seguiu todos os protocolos exigidos e que fez o repasse da verba conforme o acertado. Em um trecho de um longo comunicado, afirmou: “Como o projeto demorou muitos anos para andar (e isto porque a coprodutora portuguesa teve dificuldades, em meio à crise europeia, de captar recursos), o valor em reais em 2015 não correspondia mais a 150 000 dólares”.
(Com Estadão Conteúdo)