O tenor e maestro espanhol Plácido Domingo, 78 anos, está sendo acusado de assédio sexual. Nove cantoras e uma dançarina disseram que por décadas Domingo, que atualmente comanda a Ópera de Los Angeles, faz avanços impróprios para o elenco feminino de suas produções – aquelas que resistem sofrem ameaças de perda de emprego e boicote no universo erudito.
Os depoimentos são aterradores. Se no mundo da ópera Domingo se consagrou como um intérprete vigoroso e um dos maiores vendedores de discos desse gênero – os Três Tenores, projeto ao lado do italiano Luciano Pavarotti e do também espanhol José Carreras é um dos maiores sucessos do mundo lírico em todos os tempos –, fora dos palcos ele perde muito de sua aura simpática. Uma das acusadoras afirma que ele colocou a mão por dentro de sua saia poucos momentos após um ensaio. Outras dizem que ele tentou beijá-las à força – no camarim, em quartos de hotel e até mesmo durante um almoço. “Não há nada de estranho em sair para almoçar com alguém. Mas é muito errado quando essa pessoa coloca a mão dela em seu joelho ou tentar roubar um beijo”, diz uma das mulheres que teriam sido assediadas pelo tenor. Outros ex-funcionários e colaboradores do maestro corroboraram as denúncias das acusadoras. Segundo eles, Domingo tratava as mulheres de suas produções com um, digamos, entusiasmo que ia além do protocolo.
A mezzo soprano Patricia Wulff é a única das oito acusadoras que decidiu sair do anonimato. Seu relato é similar aos de todas as vítimas de Domingo. Ele demonstra um interesse extraordinário pelas carreiras das cantoras para depois convidá-las para um almoço, uma bebida ou até um encontro em seu quarto de hotel. A empolgação incluiu ainda telefonemas tarde da noite. As cantoras e dançarinas que ousam recusar o avanço do tenor e maestro são punidas com um exílio do mundo erudito. Duas delas afirmaram que fizeram sexo com Domingo porque tinham medo de serem prejudicadas. Uma conta que o espanhol chegou a jogar dez dólares na cama após o ato sexual dizendo que o dinheiro era para ela “pagar o estacionamento do hotel”. Embora nenhuma tenha provas concretas do abuso – fotos, mensagens, telefonemas etc –, a história dos comportamentos abusivos de Domingo tem sido confirmada por outras pessoas que trabalharam com o maestro.
Plácido Domingo é um nome respeitado no mundo erudito, mas seu comportamento errático é conhecido há décadas. O livro Molto Agitato, que fala dos bastidores da Metropolitan Opera, de Nova York, o acusa de tocar indevidamente suas companheiras de elenco e suas admiradoras. Uma dessas vítimas – com quem ele, aliás, teria tido um caso – foi Marcia Lewis, mãe de Monica Lewinsky, a estagiária da Casa Branca que teve um affair com o presidente Bill Clinton. Em sua defesa, Domingo disse que era “doloroso ouvir que tenha causado dor ou desconforto a qualquer pessoa. Todas as minhas relações foram consensuais.”