Pode preparar a pipoca, o lenço e, por que não, o vinho, porque a oitava e última temporada de Game of Thrones promete ser daquelas de quebrar corações e a internet, de gritar em direção à televisão como se adiantasse uma coisa, de derrubar lágrimas. Pelo menos é o que acha o elenco, que conversou com VEJA sobre os seis episódios derradeiros da série que despertou paixões. “A última temporada é boooooa!”, disse Emilia Clarke, depois de tentar responder se ela ficou feliz com o final de sua personagem, Daenerys Targaryen. “Hum, definitivamente… Vai ser…”, afirmou.
Manter segredo é uma das especialidades dos atores e da equipe da produção criada por David Benioff e D.B. Weiss, baseada na obra de George R.R. Martin. Faz dezoito meses que eles carregam consigo as conclusões de seus personagens e do seriado. Para Nikolaj Coster-Waldau, que faz Jaime Lannister, é fácil: é só não falar sobre o assunto. “Porque, na verdade, ninguém quer saber. Você gostaria de saber, se não fosse para publicar uma matéria?”, perguntou. Coster-Waldau não é Jon Snow, mas não sabe de nada.
Ao terminar (de ler os roteiros), peguei as chaves e saí andando sem rumo pelas ruas de Londres por três horas, tentando processar o que tinha lido
Emilia Clarke, a Daenerys Targaryen
Quando Emilia recebeu os roteiros, voltando de miniférias, tirou o dia para ler tudo. “Ao terminar, peguei as chaves e saí andando sem rumo pelas ruas de Londres por três horas, tentando processar o que tinha lido. Estava hiperventilando.” Depois disso, importunou família e amigos com coisas aleatórias. “Eles ficavam: ‘Mas por que você está fazendo essas perguntas bizarras sobre este personagem? O que está acontecendo?’”, contou. Coster-Waldau sentou-se e imediatamente mandou um e-mail para os roteiristas, parabenizando-os. John Bradley, o Samwell Tarly, sentiu alívio. “Eles conseguiram escrever algo que leva em conta os fãs e a história em si”, disse. “Para mim, era importante que Sam tivesse relevância. E ele tem, como outros personagens que não são principais.”
Para evitar vazamentos, foi criado todo um esquema de segurança. “Não tínhamos roteiros impressos”, disse Iain Glen, que faz Jorah Mormont, fiel escudeiro de Daenerys Targaryen. Tudo era digital, com verificação em duas etapas. Isso causou um certo alvoroço entre os atores. “Especialmente os da velha guarda”, admitiu Glen. “Nós gostamos dos nossos roteiros impressos. No digital não tínhamos como fazer anotações nas margens. Principalmente Peter (Dinklage, o Tyrion) ficou bem chateado.”
Pouco antes das filmagens, que duraram nove meses, atores, criadores, produtores e membros-chave da série reuniram-se em Belfast para fazer uma leitura de mesa dos roteiros. “Nunca tínhamos feito isso”, revelou Glen. “Foi uma maneira de reforçarmos nossos laços e de nos empoderar.” Emilia Clarke contou que então houve muitas conversas sobre os rumos da história. “E muitas reações individuais em momentos-chave.” Kit Harington, que faz Jon Snow (ou devemos chamá-lo agora de Aegon Targaryen?), só leu os roteiros nesta leitura coletiva e chorou ao final.
História
As longas filmagens, com muitas cenas gravadas à noite, foram cansativas. “Parecia impossível de fazer”, disse Iain Glen. Ninguém podia acreditar que tinha sobrevivido até ali. “Eu só queria chegar até a última temporada”, disse Joe Dempsie, que faz Gendry. “E a atmosfera durante a filmagem destes episódios foi totalmente diferente, porque sabíamos que seriam os últimos. Havia uma empolgação mesmo naquelas frias noites em Belfast, porque, sem exagerar, dava para sentir que estávamos fazendo um capítulo da história da televisão.”
Ninguém ficou de olho seco também ao fim das filmagens. “Cada um terminou num dia diferente. No meu dia, eu tentei agradecer a David e Dan, mas caí no choro”, disse Iain Glen. Vários jantares de despedida aconteceram. “Num deles, alguém se levantou e disse que, num set com mais de 1.000 pessoas, o ambiente foi totalmente livre de babacas”, contou Nikolaj Coster-Waldau. Uma festa para mais de 2.000 pessoas marcou o encerramento das filmagens. Ali, David Benioff e Dan Weiss fizeram discursos para os atores, que receberam de presente o storyboard emoldurado de sua cena mais marcante. John Bradley, que faz o doce e ao que tudo indica importante Samwell Tarly, admitiu: “Por mais que tenha sido difícil interpretá-lo às vezes, vou sentir sua falta”.
Top secret
Arrancar qualquer informação sobre o desfecho de Game of Thrones requereria poderes tão extraordinários quanto os desenvolvidos por Bran Stark (Isaac Hempstead-Wright), também conhecido como o Corvo de Três Olhos, capaz de ver qualquer acontecimento em qualquer parte de Westeros, no passado, presente e futuro. Mas aqui e ali saem pedaços de informação que podem ser úteis.
Por exemplo, a resposta de Emilia Clarke quando indagada se agora o público vai ter de comemorar incesto, já que Daenerys Targaryen está de caso (sem saber, por enquanto) com seu sobrinho Jon Snow-Aegon Targaryen, foi: “Sim… Pode ser… Não é, mas… De qualquer maneira. Sim”. Entendeu? Adiante, ela afirmou que só quer que os fãs fiquem felizes. “Mas é uma série de fantasia. Então eu precisava pensar em como traduzir aquilo para mim mesma, para ter o significado certo. Passei muito tempo pensando como era isso para Daenerys. Para Emilia, foi mais difícil do que subir no lombo de um dragão.”
A atriz evitou até dizer o que levou de presente do set. À pergunta “peruca ou armadura?”, respondeu: “Bem, não, meio isso”. Admitiu que não era uma arma, no entanto. Qual será o objeto sobre o qual teve de fazer segredo?
Mas Emilia teria um conselho para a cabeça-quente Dany, que de vez em quando queima alguém vivo: “Eu diria a ela para aceitar o que vier”. Como é que é, Emilia?
Ele a abandona por amor, porque entende a ameaça do Rei da Noite e quer combatê-la, agora que ela está novamente grávida
Nikolaj Coster-Waldau, o Jaime, sobre Cersei
Daenerys Targaryen não é a única envolvida numa complicada relação incestuosa na série. Jaime Lannister e Cersei Lannister (Lena Headey) sabem que são irmãos gêmeos e ainda assim vivem um tórrido romance que rendeu três filhos (todos mortos), além de uma nova gravidez. Mas o dedicado Jaime deixou Cersei para trás no fim da temporada anterior, depois de ela admitir que não ia cumprir o acordo de mandar tropas para enfrentar o Rei da Noite e ajudar Jon Snow e Dany. “O engraçado é que acho que ele continua motivado pelas coisas que é capaz de fazer por amor”, disse Nikolaj Coster-Waldau. “Ele a abandona por amor, porque entende a ameaça do Rei da Noite e quer combatê-la, agora que ela está novamente grávida.” Hum, interessante, já que todo o mundo achou que Jaime finalmente tinha dado um basta nos abusos da irmã-amante.
55 noites
Uma das sequências mais cansativas foi, justamente, a da batalha contra o vilão de Westeros, rodada em 55 noites no inverno de Belfast. “Foi terrível principalmente para a equipe”, disse Coster-Waldau. “Porque nós, os atores, em geral não estamos filmando todos os dias, temos algumas folgas. Mas a gente sabia que ia ser uma temporada grande, mesmo tendo apenas seis episódios, e todos estavam animados para fazer o melhor.”
Claro que quando a pergunta é “Quem se senta no Trono de Ferro no final?”, os atores fogem como Sandor Clegane (Rory McCann), o Cão, do fogo. “Boa tentativa! Sem comentários”, disse Dempsie. “Talvez ninguém”, afirmou Gemma Whelan, a Yara Greyjoy. Democracia em Westeros? Para Harry Lloyd, que fez Viserion Targaryen, o primeiro personagem de vulto a morrer na série, seria a solução ideal. “Arrebente aquele trono!”
Antes de ler os roteiros, Nikolaj Coster-Waldau tinha tantas dúvidas quanto a maioria dos espectadores. “Minhas perguntas eram as mesmas: quem ganha o jogo dos tronos, se é que tem vencedor? Porque havia tantas maneiras de terminar. Podia ser extremo, os Caminhantes Brancos poderiam tomar conta. E se a Cersei foi subestimada e é a única a estar pensando a longo prazo? Ela é a mais esperta? Lembra o que ela disse na primeira temporada, ‘Quando você joga o jogo dos tronos, você ganha ou morre’. Estava muito curioso com tudo isso. Mas vocês vão ter de assistir.” Tanto Iain Glen quanto John Bradley deixaram no ar que algumas perguntas podem ficar em aberto. “Quando penso em séries que amei, como Mad Men, Breaking Bad, Os Sopranos, todos os finais tinham aquele sentido de ‘o que vai acontecer a partir de agora?’”, disse Glen.
Não há lugar melhor para morrer na televisão do que ‘Game of Thrones’. Ninguém tem medo disso
Jacob Anderson, o Verme Cinzento
Há boatos, inclusive, de que vários finais foram rodados e que nem os atores conhecem o verdadeiro. “Pior que se isso for verdade, David (Benioff) e Dan (Weiss) não nos diriam”, disse Emilia Clarke.
Jacob Anderson, o Verme Cinzento, que lidera o exército de Imaculados de Daenerys Targaryen, ficou “chocado e feliz” com o desfecho para seu personagem. “Um bom final não significa sobreviver ou morrer”, disse. “Até porque não há lugar melhor para morrer na televisão do que Game of Thrones. Ninguém tem medo disso.” Emilia Clarke andou declarando que Daenerys Targaryen faz coisas muito loucas na temporada. “O fim me pegou. Saber que aquela ia ser a última impressão de Daenerys… Faço coisas estranhas. Vocês vão entender quando assistirem”, disse à Vanity Fair. Talvez isso explique sua reação de sair andando sem rumo por Londres depois de ler os roteiros. E não à toa a atriz não pode esperar a estreia. “As pessoas vão enlouquecer”, previu Clarke. “E vai ser bom minha família e amigos entenderem por que eu estava tão esquisita fazendo aquelas perguntas todas!”