Reunida nesta terça-feira (11) na sede da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, a comissão formada pela Academia Brasileira de Cinema escolheu O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues, como candidato do Brasil para o Oscar. O cineasta de 78 anos crava aqui sua sétima indicação como candidato do Brasil para o prêmio da Academia de Hollywood. Presidente da comissão, a produtora Lucy Barreto justificou a escolha de forma sucinta — “O mundo está precisando de poesia e magia, e o filme do Cacá vai trazer isso para nós: brasilidade, música e alegria. Achamos que foi uma boa escolha.”
É claro que o currículo de Cacá pesou. É um dos diretores brasileiros mais conhecidos internacionalmente. Nas últimas semanas, tornou-se o segundo diretor de cinema a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, substituindo o primeiro — Nelson Pereira dos Santos.
Numa entrevista por telefone, Cacá brinca: “A Academia (de Letras) desse jeito vai virar de Artes”. Sobre o Oscar, afirma que seria um erro depender do prêmio para avalizar a qualidade dos filmes nacionais, mas confessa que está contente: “A visibilidade compensa. E o dia que o Brasil ganhar, não importa com quem, vai ser bom para todo o cinema brasileiro”.
Em 1977, com Xica da Silva, ele cravou sua primeira indicação para o prêmio da Academia. Depois, colecionou mais cinco — Bye-Bye Brasil, Um Trem para as Estrelas, Dias Melhores Virão, Tieta do Agreste e Orfeu. Nenhum deles ficou na lista final de cinco indicados. Com O Grande Circo, tenta de novo.
Foi um dos filmes de Cacá que mais teve problemas para ficar pronto. O cineasta enfrentou dificuldades de ordem pessoal — doença na família — e até o efeito final, com as trapezistas nuas (você vai entender quando vir), revelou-se mais complicado do que parecia. Tudo isso passou. Desde maio, O Grande Circo passou em Cannes — fora de concurso — e abriu o Festival de Gramado, em agosto. “Esse filme é uma síntese de tudo aquilo em que acredito no cinema”, diz ele, um dos nomes fundadores do Cinema Novo.
Outro integrante da comissão, o cineasta Jeferson De, afirma: “Os filmes que concorreram à indicação oferecem uma súmula do Brasil e seu cinema. Como cidadão e artista negro, quero destacar que havia uma diretora negra nessa disputa. Não é fácil ser negro nem mulher nesse país, mas a Camila de Moraes, do Rio Grande Sul, marcou presença com um filme forte, O Caso do Homem Errado.”
Independentemente de gostar mais desse ou daquele filme de Cacá, Jeferson reconhece nele, um diretor branco de classe média, um dos artistas que, no cinema brasileiro, mais se empenharam ao longo de toda uma vida em refletir sobre a condição do homem negro no Brasil. A negritude atravessa a obra de Cacá. Jeferson até admite que sentiu falta disso no novo filme.
Adaptado do poema de Jorge de Lima, o filme conta a história dos cem anos de uma família por meio de um circo. Quando foi exibido em Cannes, o roteirista George Moura destacou aquela que teria sido a maior dificuldade — criar um fio narrativo (e estrutural) a partir de um poema. Nesse sentido, Cacá e ele usaram marcos temporais — como a passagem do Cometa Halley pelo Brasil, no começo do século passado.
Interpretado por Mariana Ximenes e Vincent Cassel, entre outros, o filme também tem Jesuíta Barbosa como “meneur du jeu”, o apresentador do circo que não muda de aparência ao longo desses 100 anos. Cinéfilo de carteirinha, Cacá admite que o clássico Lola Montès, de Max Ophuls, foi uma de suas referências.
O Grande Circo Místico deve estrear em 16 de novembro. “Na verdade, o filme já está em diversas praças do Brasil inteiro, mas vamos deixar as grandes capitais para novembro, por causa das eleições. O quadro está muito confuso para o cinema querer concorrer com ele”, avalia Cacá.