Mostras pelo mundo celebram centenário de Lina Bo Bardi
Duas delas serão inauguradas em SP nesta quarta-feira, no Sesc Pompeia
![A arquiteta italiana Lina Bo Bardi](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/06/alx_lina_bo_bardi_original.jpeg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
Pelo menos nove exposições devem marcar, no Brasil e em países como Alemanha, Estados Unidos, Itália e Suíça, o centenário de nascimento da arquiteta modernista italiana naturalizada brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992). Duas delas serão inauguradas em São Paulo nesta quarta-feira no Sesc Pompeia, lugar onde Lina deixou sua marca mais forte: a de uma arquitetura pensada para o exercício da cidadania e o convívio interclasses. Por isso mesmo, a primeira das mostras chama-se A Arquitetura Política de Lina Bo Bardi, cuja curadoria é assinada por dois de seus assistentes, Marcelo Ferraz e André Vainer, colaboradores no desenvolvimento do projeto e obra do Sesc Pompeia, uma antiga fábrica de tambores transformada em centro de lazer, cultural e desportivo no bairro da Zona Oeste, em maio de 1982.
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A outra mostra, Lina Gráfica, organizada por João Bandeira e Ana Avelar, destaca o lado menos conhecido da artista visual, que começou a desenhar ainda em Roma, influenciada pelos metafísicos italianos (De Chirico, em particular), tornou-se ilustradora no Brasil, criou a revista Habitat no começo dos anos 1950 e desenhou cartazes para filmes e peças que adotaram como referência imagens do cordel brasileiro, isso quando arte erudita e popular não se misturavam.
Além delas, duas outras exposições seguem em cartaz em São Paulo. O Museu da Casa Brasileira abriga até novembro a mostra Maneiras de Expor, com curadoria de Giancarlo Latorraca, sobre a arquitetura expositiva de Lina. A arquiteta organizou mostras históricas (Caipiras, Capiaus: Pau-a-Pique, Bahia no Ibirapuera), que promoveram a arte popular brasileira. Mais do que isso, levou-a para o interior do Masp, seu projeto mais conhecido que, na verdade, foi originalmente desenhado para São Vicente.
O público pode ver numa das salas do Museu da Casa Brasileira o embrião do Masp, na sede dos Diários Associados. Em outra, o visitante lembra (ou descobre) como era o Masp ao ser inaugurado, em 1968, na Avenida Paulista. Nessa sala, estão seis dos cavaletes de vidro que sustentavam as obras do acervo. A outra mostra citada reúne o mobiliário de Lina na Casa de Vidro, no Morumbi, onde ela morou com o marido Pietro Maria Bardi, que formou a coleção e foi o primeiro diretor do Masp.
O Masp já é tombado pelo Iphan e em 2014 sai o tombamento do Sesc Pompeia. Marcelo Ferraz e André Vainer marcam o centenário com um totem instalado no fim da rua que liga a antiga fábrica ao conjunto esportivo do Sesc Pompeia. Outra novidade: o artista popular Edmar de Almeida fez outra tapeçaria para as paredes do restaurante, onde as mesas são coletivas, justamente para facilitar o convívio.
“Ela falava que arquitetura era isso, um velhinho, ou uma criança, atravessando elegantemente o espaço do restaurante, à procura de um lugar numa mesa coletiva”, lembra Marcelo Ferraz. Numa era marcada pelo monumental, observa ele, “Lina é uma resposta ao formalismo vazio”, mostrando que forma e função ainda podem caminhar juntas. André Vainer, que trabalhou 15 anos com Lina e Ferraz, diz que o ideário político da arquiteta fez a dupla optar na exposição por três obras, de tempos distintos, que confirmam seu compromisso ideológico.
Nela, o Solar do Unhão, em Salvador, que restaurou, é o marco zero do projeto de Lina Bo Bardi de trabalhar com a cultura do país, justamente no momento embrionário da bossa nova e o Cinema Novo (Glauber Rocha foi seu colaborador). O Masp, já no fim dos anos 1960, inseriu o Brasil no circuito internacional dos museus. Lina queria que o acesso ao acervo do museu fosse democrático – daí a exposição da coleção sem hierarquia de escolas e períodos, com os cavaletes de vidro. Finalmente, no Sesc Pompeia, em 1982, ela concretizou o sonho de unir a fábrica a um centro irradiador da cultura, que não é só a popular ou a erudita, mas a soma de todas as culturas.
(Com Estadão Conteúdo)