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Morre Oscar Niemeyer, maior nome da arquitetura nacional

O primeiro brasileiro a ganhar o Pritzker, Oscar da arquitetura, morreu aos 104 anos, fiel às curvas de concreto que lhe deram fama internacional, e também ao comunismo e a Josef Stálin, a quem considerava "um grande estadista"

Por Da Redação
5 dez 2012, 21h01

Morreu nesta quarta-feira, às 21h55, o arquiteto Oscar Niemeyer, 104 anos. Segundo os médicos, Niemeyer morreu de insuficiência respiratória, rodeado pela mulher, Vera, e por outros familiares. Ele estava internado no Hospital Samaritano, localizado em Botafogo, no Rio de Janeiro, desde 2 de novembro, quando foi diagnosticado com desidratação. O mesmo motivo o levara, no início de outubro, a passar duas semanas no mesmo hospital. Neste período, ele teve duas hemorragias digestivas e apresentou quadro de insuficiência renal, motivo que o levou a fazer hemodiálise. Ele completaria 105 anos no próximo dia 15.

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Em entrevista coletiva após a confirmação da morte, o médico de Niemeyer, Fernando Gjroup, detalhou que o arquiteto vinha apresentando piora em seu estado de saúde desde terça-feira. Na manhã de quarta, Niemeyer havia apresentado insuficiência respiratória e precisou ser entubado. Gjroup contou que, durante a internação, o arquiteto teve momentos de lucidez e evitava falar sobre morte. “Ele chegou a trabalhar no hospital e conversar com a equipe dele sobre projetos. Ele nunca perguntava muito sobre seu estado de saúde. E falava só em viver.” O corpo de Niemeyer será levado para Brasília na manhã desta quinta para ser velado no Palácio do Planalto. Na sexta, ele volta para o Rio para um novo velório, no Palácio da Cidade. O enterro acontece no Rio de Janeiro, no cemitério São João Batista.

A razão do sucesso de Niemeyer está em sua ligação com um certo momento histórico do Brasil. “Sua carreira coincide com a modernização do Brasil. Ele foi um gênio no momento que a arquitetura queria se reinventar radicalmente”, diz Frederico Flósculo, professor de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB). Ao mesmo tempo, na definição de Flósculo, “suas obras têm a mesma marca, uma força plástica e de expressão que ignora as necessidades dos demais seres vivos”. A ventilação ruim e a iluminação insuficiente são os problemas mais apontados. “O Museu Nacional em Brasília, por exemplo, é um pavor climático. É um prédio totalmente fechado e uma praça toda cimentada com cerca de seis hectares. Nos dias de hoje, isso chega ao limite da ignorância em relação ao clima e ao conforto.”

Dinossauro – A tenacidade com que Niemeyer se aferrou aos seus cânones arquitetônicos só é comparável ao seu apego a uma ideologia inimiga dos homens. O arquiteto se tornou um dinossauro da esquerda, e morreu fiel ao comunismo e admirador de Josef Stálin, um dos maiores genocidas da história, que considerava “um estadista fantástico”. Em algumas ocasiões, levou ao desespero amigos conhecidos pelo radicalismo esquerdista, como o escritor uruguaio Eduardo Galeano, que pretendia publicar em um jornal de seu país uma entrevista que Niemeyer dera ao Jornal do Brasil. Preocupado em preservar o arquiteto de críticas, Galeano sugeriu retirar do texto os elogios a Stálin. Ouviu um sonoro “não” e desistiu da ideia. “Ele disse que não pegaria bem para mim”, contou Niemeyer a Lauro Jardim, um dos redatores-chefes de VEJA, em 2001. “Mas eu digo o que penso, mesmo que possa estar errado. Não cobro posição ideológica de ninguém. Tenho até amigos reacionários. Eles sempre pensando que eu estou errado, e eu achando que quem está errado são eles.”

Pragmatismo – Na vida profissional, Niemeyer foi de um pragmatismo a toda prova. Entre seus 600 projetos, há templos católicos e evangélicos, mesquitas, cassino, universidades, terminal rodoviário, museus, estádio de rodeios, monumentos diversos feitos por encomenda de políticos tão distintos ideologicamente quanto Getúlio Vargas (Ministério da Educação e Saúde, em 1936), Juscelino Kubitschek (Conjunto da Pampulha e Brasília) e Leonel Brizola (as escolas batizadas de Cieps e o Sambódromo do Rio de Janeiro).

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O arquiteto carioca, nascido em 15 de dezembro de 1907, entrou no curso de arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, em 1929. A marca pessoal de seus projetos começou a ganhar formar em seu primeiro trabalho, na sede do Ministério de Educação e Saúde no Rio em 1936, em parceria com o arquiteto franco-suíço Le Corbusier (1887-1965). O convite foi feito por Lúcio Costa (1902-1998), um dos maiores arquitetos brasileiros da época e com quem Niemeyer trabalhou durante sua formação acadêmica. A chegada de Corbusier ao Brasil transformou a forma com que Niemeyer enxergava a Arquitetura. O francês trouxe sua experiência na utilização das possibilidades plásticas do concreto e a simplicidade do desenho, que brasileiro utilizou até o fim da vida.

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Durante a década de 1960, Niemeyer abriu um escritório na França e, depois do golpe militar, voltou seu trabalho para o exterior. Com seu autoexílio, ampliou o alcance de sua obra para outros países, como Israel, Argélia, Espanha e Itália. “Niemeyer deu ao Brasil projeção mundial que o país não tinha no campo da cultura”, diz Agnaldo Farias, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. O arquiteto é autor de projetos como a sede do Partido Comunista Francês, em Paris, a Universidade de Constantine, em Argel, e a sede da Editora Mondadori, em Milão.

Família – Niemeyer manteve-se lúcido e produtivo até pouco antes de se internar. Até perto de completar cem anos, em 2007, gozava de ótima saúde, desafiando as recomendações médicas clássicas sobre alimentação e hábitos de vida. Comia carne vermelha e ovos e fumava cigarrilhas Davidoff sem nenhuma culpa. Depois, a idade avançada começou a pesar. Em 2006, aos 98 anos, Niemeyer caiu em casa e fraturou o quadril. Mais adiante, foi internado com infecção urinária, teve arritmia cardíaca, retirou a vesícula, operou um câncer no intestino.

Deixa a sua segunda esposa, Vera Lúcia, com quem se casou em 2006, dois anos após ficar viúvo de Annita Baldo (1909-2004), e uma família de cinco netos, treze bisnetos e cinco trinetos. A única filha do arquiteto, Anna Maria, morreu em junho, aos 82 anos.

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(Com reportagem de Raissa Pascoal e Léo Pinheiro)

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