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Meninas-noivas turcas, uma infância roubada pela violência

Por Da Redação
13 nov 2011, 09h06

Dogan Tilic.

Ancara, 13 nov (EFE).- ‘Fui a Gaziantep (cidade do sudeste da Turquia) como noiva quando tinha 10 anos. Enquanto ia comprar pão, alguns meninos corriam atrás de mim gritando ‘menina-noiva’. Minha sogra me pegava, mas não me dava pão. Um dia, quando ela estava fazendo pão, me apunhalou, foi embora e me deixou ali, presa’.

Testemunhos como este dão voz às frias estatísticas de um recente estudo sobre os casamentos de menores na Turquia, que representam 28,2% de todos os casamentos.

Essa conclusão é resultado de uma análise realizada pela associação de mulheres ‘Flying Broom’, em 54 províncias do país, segundo dados de 2008.

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Um fenômeno que não só rouba a infância de milhares de meninas, mas as condiciona a uma vida muitas vezes marcada pelas surras, estupros e trabalhos forçados.

Segundo Sevna Somuncuoglu, coordenadora da pesquisa, este estudo mostra que o costume não só não desapareceu, mas ‘inclusive é mais comum nas grandes cidades’, segundo publicou o jornal ‘Cumhuriyet’.

Tanto que até o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, casou seu filho em 2003 com Reyyan Uzuner, quando ela tinha 17 anos, após obter uma ordem judicial.

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O estudo sobre as meninas-noivas, que foi apresentado na semana passada no Parlamento, revela que uma em cada cinco meninas da comunidade cigana que vive ao noroeste de Istambul (aproximadamente 1,5 milhão de pessoas) se casa quando completa 15 anos.

O psiquiatra Selçuk Candansayar, da Faculdade de Medicina na Universidade Ghazi, explicou à Agência Efe que estes casamentos vêm acompanhados de violência, estupros, incesto e problemas mentais, e que os bebês nascidos deste tipo de relações têm taxas mais altas de mortalidade antes do primeiro ano de vida.

‘A vidas dessas meninas é roubada. Não podem realizar nenhum de seus sonhos, nem sequer podem sonhar. São tiradas da escola e transformadas em mão de obra, e inclusive em escravas da família do marido. Tudo isto contribui para o aparecimento de problemas mentais graves’, declarou Candansayar.

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Se a porcentagem de casamentos com menores é de 28,2 na Turquia, em algumas regiões do sudeste do país, como Diyarbakir, este número chega a 50%. Em 2010, em Sanliurfa, uma cidade do sudeste, foram registrados 21.091 partos, sendo que, 712 eram de mães adolescentes.

O estudo estima que o número de meninas-noivas na Turquia, segundo dados de 2008, era de 181.036. Só em Istambul foram registrados 24.934 destes casamentos.

Segundo várias pesquisas, no mundo todo existem dez milhões de meninas que se casam a cada ano, o que significa que a cada três segundos uma menor se casa. A taxa de casamentos forçados e prematuros também é alta no Centro e no Leste Europeu.

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Geórgia e Turquia lideram a lista europeia, mas países como a França e Reino Unido também têm porcentagens de até 10% de menores que se casam antes de completar 18 anos, segundo um relatório publicado no jornal ‘The Guardian’.

A professora de Sociologia Yildiz Ecevit, que apresentou o estudo no Parlamento turco, declarou à Agência Efe que o número de 28,2% foi registrado em estudos demográficos na Universidade Hacettepe, que estuda as práticas matrimoniais no país.

Yildiz ressaltou o papel das tradições e os fatores sócio-econômicos como causa dos casamentos prematuros forçados e insistiu no peso que têm a honra e a virgindade, responsáveis pela reputação da família. Além disso, quando se casam, a família do marido as usa como mão de obra barata ou não remunerada.

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‘No entanto, não sou a favor de impor medidas legais para que só se casem aos 18 anos.

Isto causaria muitos outros problemas. O número de casamentos prematuros, que em sua maioria são celebrados em forma de ‘Imame Nikahi’ (casamento religioso), vai continuar aumentando’, lamentou Yildiz.

‘Quando tinha 13 anos me casei com um homem de 30. Nunca o tinha visto. Nos casaram só porque era filho de um amigo do meu pai. Quando o vi, pensei que poderia ser meu pai. Não podia nem chegar perto dele. À noite ficava muito assustada’, contou uma das entrevistadas pelo estudo. EFE

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