Mariah Carey: do topo da ‘Billboard’ à festa de peão
Cantora, que passa por altos e baixos na carreira e na silhueta, se apresenta em evento no interior de São Paulo
Em outubro de 2009, quando se apresentou em um evento de moda no Rio de Janeiro, Mariah Carey surpreendeu o público menos pelo talento de cantora do que pela silhueta esférica. Atochada em um vestido pelo menos três números menores e com um farto decote, Mariah mal conseguia se mover sem ajuda dos dançarinos, que a suspendiam pelos braços e a carregavam de uma ponta a outra do palco. Menos de um ano depois, lhe é dada a oportunidade de compensar o mico, agora numa inusitada apresentação na Festa do Peão de Boiadeiro 2010, em Barretos-SP.
A silhueta, pelo que se pôde notar quando Mariah desembarcou ontem, no Brasil, parece ter expandido ainda mais – o assunto é um dos preferidos dos tuiteiros. Mesmo assim, a esperança de que a cantora, que lançou 13 discos em 20 anos de carreira, faça uma grande apresentação não é de todo perdida. De levantar a poeira e dar a volta por cima ela entende bem. Senão, vejamos.
Mariah lançou o primeiro disco em 1990 quando, num golpe de sorte, Tommy Motolla, chefão da Columbia Records, ouviu uma fita demo com algumas de suas canções. Contratada pela Columbia e casada com Motolla, Mariah deu o primeiro passo numa carreira de altos e baixos, cujos altos a consagraram como a artista americana melhor sucedida nos anos 1990.
Seus discos já venderam mais de 200 milhões de cópias no mundo inteiro, 18 de suas canções alcançaram o topo da Billboard – feito que só tem como oponentes Elvis Presley e os Beatles. Ela amealhou cinco Grammy e, em 1998, um Oscar e um Globo de Ouro de Melhor Canção Original, por When you Believe, tema do filme O Príncipe do Egito.
A receita de tamanho sucesso foi juntar canções grudentas como Honey, Butterfly e Hero com elementos de soul e R&B, cantadas com exímio talento negro por uma branca voluptuosa e sexy (essa época passou, claro). Até que veio a debacle.
O disco Glitter, de 2001, solapou a carreira de Mariah. Primeiro lançamento de um contrato de 80 milhões de dólares por quatro discos com a gravadora Virgin, celebrado à época como o maior da história da música, o álbum patinou nas vendas e nas rádios. A Virgin, decepcionada e temendo um poço ainda mais fundo, desembolsou 28 milhões de dólares para se ver livre da cantora. O público, que estava entretido com Britney Spears, deu de ombros para músicas tediosas como Loverboy e para o filme homônimo, estrelado por Mariah. Fiasco amplo, geral e irrestrito.
O trabalho seguinte, Charmbracelet (2002), lançado pela Island Records, manteve o fracasso. Não bastasse o pavor de, de uma hora para outra, deixar o posto de diva do pop para virar uma companhia indigesta, Mariah estava às voltas com crises nervosas – e até tentativas de suicídio – que a puseram no estaleiro, depois de ser abandonada pelo seu namorado, o cantor Luis Miguel.
Até que em 2005 veio o surpreendente disco The Emancipation of Mimi, que fez jus ao título: levou 3 Grammy, de Melhor Álbum, Melhor Música e Melhor Cantora de R&B. Mirando-se nas letras provocativas de Britney Spears e Beyoncé, Mariah atualizou as batidas eletrônicas e voltou com tudo às paradas de sucesso. Das míseras 700 mil cópias (nos EUA) de Glitter, quatro anos antes, Mariah saltou para 10 milhões de cópias e muito, muito decote e shortinho curto nas lascivas coreografias. Deu certo.
Desde 2008 ela lançou dois discos, E=MC² e Memoirs of an Imperfect Angel – este, um bom retorno às baladas de Butterfly, de 1997, que a mantiveram numa confortável posição, sem ter de se debater com concorrentes de peso (não o físico) da época, como Beyoncé e Alicia Keys. Ela angariou até elogios da crítica especializada por atuar no filme Preciosa, um dos indicados ao Oscar em 2009.
É um apanhado dessa gangorra que Mariah vai apresentar em Barretos, neste sábado (21), para um público estimado em 50 mil pessoas. Dar a volta por cima é tudo o que a Festa do Pão de Boiadeiro também espera com a ajuda de Mimi, seu codinome. Ressabiada com o fracasso de público da última edição do evento, em 2009, por causa das fortes chuvas, os produtores investiram 2 milhões de reais a mais na escalação dos shows. Desde 2002, com a vinda do grupo norueguês A-Ha e da cantora americana Gloria Gaynor, uma atração internacional não põe os pés na arena de Barretos. Os pés, bem, Mariah vai colocar no palco. Mover-se é outra história.