A socialite de gostos sofisticados. A debutante de enunciação cultivada, mas com um quê de infantil. O ícone fashion que lançou mil febres da década de 60 em diante. A primeira-dama que deu forma de conto de fadas à família ocupante da Casa Branca. E também a figura em frenesi, subindo pelo capô do conversível enquanto o marido, alvejado, tomba morto no banco de trás. Tudo o que Jacqueline Bouvier Kennedy viria a simbolizar para o século XX confluiu naquele 22 de novembro de 1963, dia em que John Fitzgerald Kennedy se tornara o quarto presidente americano assassinado no exercício do cargo (a tiros, assim como Abraham Lincoln, James Garfield e William McKinley), durante uma carreata em Dallas, no Texas. Atordoada porém surpreendentemente lúcida, ela migra da margem para o centro em Jackie (Estados Unidos/Chile/França, 2016), que estreia nesta quinta-feira no país. Com cautela, para não abrir nenhuma rachadura na fachada de mulher-ornamento e esposa perfeita, mas com ferocidade praticada sob o abrigo do luto, a Jackie interpretada por Natalie Portman (muito justamente indicada ao Oscar) é a guardiã de uma chama que, ela acredita, pode inspirar por muito tempo ainda os rumos da nação — e também dar um sentido pessoal às suas tribulações como primeira-dama e, agora, como viúva.
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