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‘Holy Motors’ parte do absurdo para fatiar a realidade

Primeiro longa do francês Leos Carax em 13 anos, filme que estreia nesta sexta conta história de Oscar, que tem por ofício encarnar diversos personagens

Por Meire Kusumoto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 30 nov 2012, 06h46

Em um único dia, o senhor Oscar vive nove episódios diferentes, nove vidas diferentes. Não está fazendo mais do que sua obrigação: ele é contratado por uma empresa obscura para se passar por esses nove perfis. Quando sai de sua limusine branca, pode ser tanto um banqueiro ou um pai de família quanto um louco que se embrenha nos esgotos de Paris e vai dar em cemitérios onde lápides carregam a inscrição “Visite meu site”. De um jeito por vezes bizarro, mas interessante, o longa procura mostrar como a vida de cada um é estranha, quando vista pelos olhos dos outros.

ENTREVISTA: Holy Motors é ficção científica sobre ‘viver no mundo real’

O filme é a nova aposta do francês Leos Carax (de Pola X e Os Amantes da Pont Neuf), que ficou treze anos sem lançar um longa-metragem. Holy Motors foi exibido no Festival de Cannes deste ano, onde foi aplaudido por dez minutos, mas no Festival do Rio as atenções se voltaram mesmo foi para a cantora australiana Kylie Minogue, que tem um papel importante no filme de Carax, ainda que pequeno. Sua personagem, Jean, tem o mesmo trabalho que Oscar (Denis Lavant) e, quando eles se encontram, dá a entender que é uma antiga namorada sua — nada aqui é muito certo ou concreto, e essa parece longe de ser a proposta do filme, que pode ser visto como um sonho, um devaneio ou simplesmente um conto fantástico.

Eles vão para o terraço de uma antiga loja de departamentos onde, de repente, Jean começa a cantar, dando ao filme o tom de um musical. É uma cena que parece deslocada, não fosse pela letra da canção. Escrita por Carax, a música Who Were We? (Quem Nós Éramos?, em tradução direta), define perfeitamente uma dúvida que pode surgir com o desenrolar da história: quem são, afinal, essas pessoas que vivem as vidas de outras pessoas? Quem elas eram antes de assumir diversos papéis durante o dia?

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As perguntas, no entanto, não parecem importantes diante das situações que esses “atores” enfrentam, algumas vezes tão próximas do cotidiano, outras tão descoladas da realidade de qualquer um que seja. Todos os dias pela manhã, Oscar recebe o “roteiro” com a descrição dos personagens e episódios que vai viver naquele expediente, já dentro da limusine que o levará a cada cena. Ao final do dia, o carro que é guiado por Céline (Edith Scob), é guardado na garagem Holy Motors — o nome se deve à paixão do diretor por motores. Dentro do carro, para os esquetes que irá protagonizar, Oscar dispõe de uma infinidade de perucas, máscaras e outros apetrechos.

Ao se transformar em uma velha que vaga pelas ruas da capital francesa pedindo dinheiro, diz: “Ninguém gosta de mim em lugar nenhum, mas eu continuo existindo”. É uma reprodução do que pessoas que compartilham da mesma vida devem pensar, ao serem ignoradas diariamente nas grandes cidades.

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Quando se transfigura em um louco que vive sujo e se locomove pela cidade através da rede de esgoto, o incômodo que Oscar causa nos passantes é estranhamente familiar. As pessoas se esquivam, gritam, fogem, mas nada se compara ao choque que elas enfrentam quando ele, em uma cena bizarra, lambe as axilas da modelo Kay M (Eva Mendes) e depois a sequestra.

Com uma mistura do impossível com o íntimo, Carax não conta apenas uma história, mas tenta alcançar a saga de todos os homens, talvez. Ainda que não da mesma forma, todo mundo tem um pouco da velha pedinte, que simplesmente continua existindo.

A garagem Holy Motors, do filme do francês Leos Carax
A garagem Holy Motors, do filme do francês Leos Carax (VEJA)
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