Homem pode se fantasiar de mulher? Não-indígenas de índios? A polêmica chegou ao Carnaval de São Paulo e opôs foliões que apoiam a brincadeira e os que veem nela um reforço de estereótipos.
A atendente Eliana Barbosa admite que sua principal razão para ir ao bloco Domingo Ela Não Vai, na Zona Sul, de índia não foi propriamente um apoio à causa. “No Carnaval, quanto menos roupa melhor (risos). Brincadeira, achei bonito mesmo. Mas é legal pensar que estou representando a cultura.”
A controvérsia cresceu com o movimento “Índio não é fantasia”, que acusa de apropriação cultural e preconceito o hábito de se fantasiar de índio. Proposto pelo ativista Katú Mirim, o movimento já tomou como alvo, neste Carnaval, as atrizes Paolla Oliveira, criticada no Instagram, e Viviane Araújo, que desfilou no Anhembi como índia americana.
Amiga de Eliane, a gerente Adriane Silva, que se diz descendente de indígenas, discorda das críticas. “Ninguém fala dos índios. É uma cultura brasileira. Acho que faz lembrar, não vejo problemas”, argumentou.
No bloco MinhoQueens, realizado no final da tarde de sábado no centro da capital paulista, a principal controvérsia eram os homens vestidos “de mulher”. “O que é se vestir de mulher? É estar de rosa, de noiva, de vestido? Acho que reforça estereótipos do que é ser mulher”, reclama a diretora de arte Natália Santos.
Em trajes femininos, o designer Leandro Rodrigues concorda, apesar de ver diferença entre homens que se vestem de mulheres de forma jocosa e outros que incorporam personagens. “Eu não iria só ‘de mulher’, não acho legal. Mas estou vestido como um personagem de As Branquelas, acho diferente”.
O cenógrafo Eduardo Vieira, que veio ao bloco de par com o amigo, pensa diferente. “Se eu fosse machista ou homofóbico, seria um problema, mas eu sou uma pessoa que respeita”.