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Filme turco vencedor de Cannes é obra de mestre

Winter Sleep (“Hibernação”, em tradução direta), um filme turco de 3 horas e 16 minutos, levou a Palma de Ouro do 67º Festival de Cannes. A própria presidente do júri, Jane Campion, admitiu ter ficado assustada com a duração do longa-metragem de Nuri Bilge Ceylan antes de assisti-lo. “Tive medo, achei que ia precisar de […]

Por Mariane Morisawa, de Cannes
24 Maio 2014, 17h22
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  • Winter Sleep (“Hibernação”, em tradução direta), um filme turco de 3 horas e 16 minutos, levou a Palma de Ouro do 67º Festival de Cannes. A própria presidente do júri, Jane Campion, admitiu ter ficado assustada com a duração do longa-metragem de Nuri Bilge Ceylan antes de assisti-lo. “Tive medo, achei que ia precisar de uma pausa para o banheiro, pelo menos”, disse Campion, rindo, após a cerimônia. “Mas é uma obra de mestre”, completou ela, comparando o filme aos textos do russo Anton Tchecov. Campion disse que, no fim, teria assistido com prazer “a mais duas horas de projeção”. Por pouco ela não teve seu desejo atendido: Ceylan admitiu que o primeiro corte tinha quatro horas e meia.

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    Winter Sleep acompanha as perambulações de Aydin (Haluk Bilginer), um homem rico, dono de casas de aluguel e de um hotel na Capadócia – e que tem dificuldade de sentir empatia pelos outros. Aos poucos, sua personalidade vai sendo revelada por meio dos seus relacionamentos com sua mulher bem mais jovem, Nihal (Melissa Sözen), a irmã Necla (Demet Akbag), e o empregado Hidayet (Serhat Kiliç). “Se eu tiver a coragem de ser tão honesto com meus personagens quanto esse diretor, ficarei orgulhosa de mim”, disse Campion.

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    Uma Palma de Ouro para Ceylan era esperada. O cineasta turco tinha levado o prêmio de direção e o Grande Prêmio do Júri (uma espécie de segundo lugar) com seus dois trabalhos anteriores, Três Macacos, de 2009, e Era uma Vez na Anatólia, de 2011, além de outro Grande Prêmio em 2003 por Uzak. “Posso dizer que os sentimentos ao ganhar a Palma de Ouro são bem diferentes de quando você ganha o Grande Prêmio”, afirmou Ceylan na coletiva dos premiados. Winter Sleep não é tão ousado quanto os anteriores em termos narrativos e visuais, mas é a obra refinada de um diretor em pleno domínio de seus meios. Ele dedicou a Palma de Ouro aos jovens que morreram nos recentes protestos no país. “Alguns sacrificaram suas vidas por nosso futuro”, disse Ceylan.

    Apesar de a maior parte dos filmes favoritos ter sido premiada, à exceção de Still the Water (“Água Parada”), de Naomi Kawase, houve espaço para surpresas, como o Grande Prêmio do Júri para Le Meraviglie (“As Maravilhas”), da outra diretora em competição, Alice Rohrwacher. Jane Campion disse que o sexo do diretor jamais foi levado em conta. “Achamos Le Meraviglie um filme espiritual incrível, tinha performances ótimas. Chorei no final”, afirmou o cineasta dinamarquês Nicolas Winding Refn. Sua companheira do júri, Sofia Coppola, elogiou a poesia do filme, enquanto o diretor chinês Jia Zhangke brincou: “Gostei do camelo.”

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    Foxcatcher, de Bennett Miller, foi bem recebido em Cannes, mas nem sempre se espera que um longa-metragem americano, já alçado à condição de concorrente ao Oscar do próximo ano, ganhe um prêmio no festival, ainda mais um tão importante quanto o de melhor diretor. Mas trata-se de uma produção americana atípica, com muitos silêncios e pouco didatismo, sobre um bizarro caso real envolvendo o milionário John Du Pont (Steve Carell), que montou uma equipe de luta livre, com destaque para o campeão olímpico Mark Schultz (Channing Tatum), e, anos mais tarde, assassinou o irmão de Mark, Dave (Mark Ruffalo).

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    Timothy Spall, por Mr. Turner (“Sr. Turner”), de Mike Leigh, e Julianne Moore, de Maps to the Stars (“Mapas para as Estrelas”), de David Cronenberg, estavam nas listas de favoritos. Spall mostrou-se bem emocionado com o prêmio de melhor ator. “Estou me sentindo como uma garota de 16 anos agora, ou menino de 16 anos, nem sei”, brincou o inglês na coletiva dos premiados. Moore não pôde voltar a Cannes para receber o troféu.

    A decisão mais comentada foi a divisão do Prêmio do Júri entre o franco-canadense Xavier Dolan, o cineasta mais jovem da competição, com 25 anos, por Mommy (“Mamãe”), e o franco-suíço Jean-Luc Godard, o diretor mais velho, com 83, por Adieu au Langage (“Adeus à Linguagem”). “Foi uma decisão que todos tomamos”, disse a presidente do júri, Jane Campion. “Amo Mommy, é muito moderno. E não estava esperando, mas, quando vi Godard, realmente fiquei chocada, achei muito moderno também. Percebi que se tratava de um homem livre. Então juntar os dois fazia sentido.” Winding Refn destacou que ambos mostram que, com a revolução tecnológica, todo o mundo pode fazer cinema.

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    Godard já tinha anunciado que não viria a Cannes em hipótese alguma, e o produtor Alain Sarde nem tinha telefonado para avisá-lo do prêmio. “Não me atreveria, a essa hora”, disse. “Vou ligar amanhã. Tenho certeza de que ele já sabe, mas não vai mudar sua vida”, completou, provocando risos. Sarde disse que tinha ficado feliz porque, normalmente, era um prêmio dado a cineastas jovens. Dolan também declarou ter ficado contente com o troféu. “Acho que foi um gesto deliberado do júri para nos juntar, talvez por termos idades tão diferentes e porque ambos estamos buscando a liberdade no cinema, com abordagens diferentes.”

    Em geral, foi uma premiação bastante eclética, que consagrou de um drama mais cerebral e exigente (Winter Sleep) a uma fantasia espiritualista (Le Meraviglie), das travessuras de um cineasta veterano (Adieu au Language) às emoções derramadas (Mommy).

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