Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Filme proibido do iraniano Jafar Panahi, ‘Pardé’ fala de liberdade e arte

O longa foi apresentado em sessão de imprensa, onde foi recebido com aplausos e uma pessoa vaiando com vontade

Por Mariane Morisawa, de Berlim
12 fev 2013, 12h24
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Depois de duas prisões, o iraniano Jafar Panahi está impedido por 20 anos de fazer cinema, viajar para o exterior e dar entrevistas – se ele quebrar a condenação, terá de passar seis anos na prisão. Mas Pardé (em inglês o título é Closed Curtain, ou “Cortina Fechada”), dirigido pelo cineasta em parceria com o roteirista Kambozia Partovi, está na competição do 63º Festival de Berlim. O filme foi apresentado na manhã desta terça-feira (12) em sessão de imprensa, onde foi recebido com aplausos e uma pessoa vaiando com vontade.

    Publicidade

    O longa-metragem começa com a imagem feita de dentro de uma casa à beira do Mar Cáspio. Através da porta de correr de vidro transparente, a câmera mostra uma grade, como aquelas de tantas casas brasileiras, mas sem dúvida simbólica da situação de Panahi. Um roteirista (o codiretor Kambozia Partovi) chega à casa, trazendo escondido numa sacola um cachorro – uma lei baniu esses animais, considerados “impuros”. Escondido nessa vila, ele fecha as cortinas e cobre as janelas com tecidos escuros. O absurdo da situação tirada das notícias é acentuado dentro do próprio filme com a chegada de um homem e uma mulher no meio da noite. Eles são perseguidos pela polícia por razão inespecífica (afinal, no Irã de hoje, isso não importa, porque tudo pode ser motivo para ser perseguido) e pedem para se esconder na casa. O roteirista não entende como eles conseguiram entrar, porque tem certeza de que trancou a porta. Pouco depois, o homem desaparece, deixando apenas a mulher (Maryam Moghadam).

    Publicidade

    A produção torna-se uma espécie de “filme de fantasmas”, em que personagens aparecem e desaparecem, porque, na verdade, são parte da cabeça do diretor. Jafar Panahi finalmente aparece como personagem em determinado momento. Como em longas anteriores, realidade e ficção se misturam, e o processo fica tão importante quanto o filme em si. Assim, discute-se a liberdade e o momento iraniano. “Não ligue para isso, é só um trabalho”, diz um vizinho a Panahi. E o diretor diz que não é bem assim, pois, para o artista, a arte não é só um trabalho. Só que, desta vez, Panahi, por razões compreensíveis, não consegue realizar uma obra tão precisa quanto as anteriores, recorrendo a alguns excessos e aproximando-se do desabafo. Ainda assim, tem grandes chances de levar algum prêmio em Berlim.

    Não é a primeira vez que o cineasta burla o sistema. Em Isto Não é um Filme, ele fez um quase documentário sobre sua vontade de fazer um filme. Na coletiva de imprensa que se seguiu à exibição, Partovi explicou as razões do desafio ao embargo. “É difícil conseguir trabalhar. Mas não poder trabalhar é ainda mais difícil. Você fica deprimido. Acho que isso está no filme. Estamos muito empolgados de conseguir terminá-lo e achamos importante fazer, para que ele tivesse alguma atividade criativa e tentasse passar por esse período difícil. Não sabemos onde vai dar, mas ficamos felizes que ele tenha conseguido completar esse projeto.” O codiretor ainda disse que não houve nenhuma repercussão junto ao governo iraniano. “Mas não dá para prever o que vai acontecer.” Partovi não acha que o cineasta tenha pensado efetivamente em suicídio, um tema recorrente do personagem Jafar Panahi em Pardé, apesar de o cineasta ter admitido uma depressão após sua condenação. “Ele não estava pensando constantemente em suicídio. Mas, se eu imaginasse ficar sem meu trabalho, eu começaria a pensar no assunto.”

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    Camille Claudel

    Outro filme da competição exibido na terça-feira (12) foi Camille Claudel 1915, também uma história de confinamento forçado. O diretor francês Bruno Dumont mostra os últimos 29 anos da vida da artista Camille Claudel (vivida por Juliette Binoche), que foi amante de Auguste Rodin entre 1880 e 1895 e internada pela família num hospício no sul da França em 1913 – a atriz contracena com pessoas que realmente têm doenças mentais. Ela passa os dias a esperar a visita do irmão, o escritor Paul Claudel (Jean-Luc Vincent), convencida de que havia uma conspiração de Rodin para desacreditá-la como escultora e até para envenená-la. Binoche impressiona ao aparecer em todas as cenas, quase sem falas, mas por vezes o filme procura o caminho mais fácil, principalmente o choro desesperado. A filosofia sobre Deus, religião e arte é mais aborrecida do que intrigante.

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.